Críticas


ERA UMA VEZ

De: BRENO SILVEIRA
Com: THIAGO MARTINS, VITÓRIA FRATE, ROCCO PITANGA
26.07.2008
Por Carlos Alberto Mattos
TRAGEDISMO DE CARTILHA

Depois de ver o filme, dá pra compreender o nervosismo de Breno Silveira com esse segundo longa. Era pra ter sido o primeiro, diz ele. E parece mesmo, principalmente no que transparece de obediência a uma cartilha de comunicação.



Os problemas começam no argumento, mais uma variação de Romeu e Julieta, só que pensada como conto de fada às avessas. Dé, o favelado de alma boa, é personagem construído primeiro no contraste com o estereótipo do bandidão vilanesco, depois com o irmão adotivo que se transforma ao longo do filme. A “princesa” da Vieira Souto é personagem sem vida, de interesse apenas funcional para o romance acontecer. O encaminhamento da trama aponta para um “tragedismo” persistente no cinema brasileiro recente, travestido de chamado à visibilidade dos supostamente excluídos.



O roteiro reforça as limitações do argumento através de recursos extremamente convencionais, como a reverberação de ecos de memória, as coincidências novelescas e os diálogos “mensageiros” que pretendem resumir o sentido profundo da história. As referências explícitas ao livro Cidade Partida, de Zuenir Ventura, são apenas um exemplo das obviedades que pontuam o filme como uma trilha para as crianças não se perderem no parquinho. A sátira à assistência dos bandidos à comunidade é um dos raros aspectos originais.



Mesmo na direção, onde Silveira já deu mostras de ser bom artesão, falta um sopro que anime os personagens (à brilhante exceção do Carlão de Rocco Pitanga). Não há química entre os protagonistas, e Thiago Martins parece manietado em vez de tímido. Exagerado às vezes, inverossímil quase sempre, presa de uma ingenuidade fabricada, o filme parece defasado no tempo como obra cinematográfica e como depoimento social.



# ERA UMA VEZ...

Brasil, 2008

Direção: BRENO SILVEIRA

Roteiro: PATRÍCIA ANDRADE (colaboração de DOMINGOS OLIVEIRA)

Produção: BRENO SILVEIRA, PEDRO BUARQUE DE HOLLANDA

Fotografia: DUDU MIRANDA, PAULO SOUZA

Trilha Sonora: BERNA CEPPAS

Montagem: EDUARDO HARTUNG

Elenco: THIAGO MARTINS, VITÓRIA FRATE, ROCCO PITANGA

Duração: 118 minutos

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