Críticas


ERA UMA VEZ

De: BRENO SILVEIRA
Com: THIAGO MARTINS, VITÓRIA FRATE, ROCCO PITANGA
26.07.2008
Por Daniel Schenker
FESTIVAL DE CLICHÊS

Diante do resultado apresentado, o título Era uma vez... adquire um significado involuntário. É que ingenuidade talvez seja o termo que melhor defina este novo filme de Breno Silveira, responsável pelo bem-sucedido 2 Filhos de Francisco . O diretor investiu em recursos pouco refinados para contar uma história de amor entre adolescentes, Dé e Nina, representantes de contextos sócio-econômicas discrepantes num Rio de Janeiro belo, mas assolado pela violência.

Dé mora no Morro do Cantagalo e tem uma história familiar trágica. Nina mora na Vieira Souto e tem um namorado para lá de esnobe. O mundo dos pobres parece marcado pela autenticidade; o dos ricos, pela hipocrisia. Para não fugir à regra, o pai de Nina, inicialmente flagrado como preconceituoso de plantão, externa, a partir de um dado momento, certa dose de generosidade. Uma transição, porém, que precisa fazer sentido na cartilha simplória seguida pelo cineasta: ele “pode” ser simpático porque começou de baixo.

Trata-se apenas de um exemplo entre as diversas escolhas que prejudicam Era uma vez... . O roteiro (de Patrícia Andrade, com colaboração de Domingos Oliveira) é marcado pela utilização de um naturalismo banal, presente em diálogos que sublinham clichês, como a “vantajosa” vista panorâmica da favela e o paradoxal “tão longe, tão perto” evocado para sintetizar os cotidianos de Dé e Nina. As situações não são menos previsíveis: o espectador percebe de imediato que Carlão, irmão de Dé, precisou pagar um preço alto para sair da cadeia; e que o convite para uma festa de despedida (“O morro está tranqüilo, vai ser a última vez”) que ele lança para Dé e Nina trará de brinde conseqüências definitivas.

Há muito mais a ser questionado. Como justificar que os protagonistas leiam justamente Cidade Partida , de Zuenir Ventura? Mais literal, impossível. Ou que a melhor amiga de Nina seja construída como típica jovem fascinada pela marginalidade? Ou que as duas conversem sobre a descoberta da realidade econômica de Dé enquanto passam por uma locação óbvia como a Linha Vermelha? Tudo é explicado, sublinhado, várias vezes através de flashbacks.

A trilha sonora (de Berna Ceppas) é um equívoco à parte. Além de superutilizada, é prejudicada pelo modo como acaba sendo inserida em determinadas passagens. Na seqüência em que Nina sobe o morro para encontrar com Dé, a música funk é substituída pela suavidade de Marisa Monte no exato instante em que a câmera isola o casal, envolvendo ambos numa espécie de redoma. Para completar, o registro documental, realçado pelo depoimento do ator Thiago Martins nos créditos finais, não deve ser taxado de insincero, mas soa como artificial perseguição de uma autenticidade que o filme jamais alcança devido, principalmente, à fragilidade de sua estrutura.

# ERA UMA VEZ...

Brasil, 2008

Direção: BRENO SILVEIRA

Roteiro: PATRÍCIA ANDRADE (colaboração de DOMINGOS OLIVEIRA)

Produção: BRENO SILVEIRA, PEDRO BUARQUE DE HOLLANDA

Fotografia: DUDU MIRANDA, PAULO SOUZA

Trilha Sonora: BERNA CEPPAS

Montagem: EDUARDO HARTUNG

Elenco: THIAGO MARTINS, VITÓRIA FRATE, ROCCO PITANGA

Duração: 118 minutos

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