Críticas


NOME PRÓPRIO

De: MURILO SALLES
Com: LEANDRA LEAL, JULIANO CAZARRÉ, RICARDO GARCIA, ROSANNE MULHOLLAND
12.08.2008
Por Daniel Schenker
INTERIORIDADE ESTAMPADA NO CORPO

Nome Próprio parece ser um filme norteado por uma espécie de desejo expresso em fazer com que o espectador enxergue Camila por dentro. Num certo sentido, tudo remete à interioridade da personagem, criada a partir de textos da escritora e blogueira Clarah Averbuck e interpretada com visível dose de entrega por Leandra Leal: diversas ações (raspar a unha, descartar comprimidos de uma cartela, aderir à faxina de modo maníaco), repletas de ruídos devidamente potencializados, “informam” sobre o seu estado psíquico.



Mas o diretor Murilo Salles também lembra que a interioridade esbarra numa impossibilidade. A câmera busca tanto o close que, em determinados instantes, a precisão da imagem se perde. É como se não existisse nada dentro de Camila. Sua interioridade encontra-se, isto sim, estampada no próprio corpo.



Até porque olhar para fora é olhar para dentro, a exemplo da passagem na qual Camila surge observando a área interna do edifício onde está hospedada. O cineasta investe num filme de espaços fechados e, não por acaso, valoriza os abertos, desenvolvendo uma equação já posta em prática em Nunca fomos tão Felizes .



Como se pode ver, as instâncias de interioridade e exterioridade não são necessariamente opostas. O contraste só se evidencia na alternância entre uma Camila que age como uma espécie de fratura exposta e a “presença” da narradora, que escreve sobre Camila a partir de uma perspectiva distanciada, utilizando verbos no passado ou no futuro. O que está em questão não é o fato de a personagem fazer exatamente o que a narradora anuncia e sim a espessura formada entre o viver e o narrar, entre a fala em primeira e em terceira pessoa.



Assim, não há propriamente reiteração nos recursos empregados em Nome Próprio . A câmera de Murilo Salles traz à tona a desestabilização de Camila; contudo, é mais suave que a personagem, não se constituindo, portanto, como mera ilustração do seu instante emocional.



Também não ocorre reiteração quando Camila murmura aquilo que escreve, na medida em que traz à tona a perspectiva da arte como expressão de uma pessoalidade, como resposta ao modo como o mundo incide sobre si. Em momentos como estes, o público é levado a experimentar a posição de leitor. Por meio deste acúmulo de “funções”, Murilo Salles lembra que a apreciação de um trabalho nunca é integral. Afinal, mesmo quando não há acúmulos ou escolhas a serem feitas, cada espectador se apropria do que assiste de um modo diverso.



NOME PRÓPRIO

Brasil, 2008

Direção: MURILO SALLES

Roteiro: ELENA SOAREZ, MELANIE DIMANTAS, MURILO SALLES

Redação e edição final dos textos: VIVIANE MOSÉ

Fotografia: MURILO SALLES, FERNANDA RISCALI

Edição: VÂNIA DEBS

Música: SACHA AMBAK

Direção de arte: PEDRO PAULO SOUZA

Edição de som: VIRGÍNIA FLORES

Elenco: LEANDRA LEAL, JULIANO CAZARRÉ, RICARDO GARCIA, ROSANNE MULHOLLAND, DAVID KATZ

Site oficial: clique aqui

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