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RETROSPECTIVA DE CARLOS SAURA EM 13 FILMES

12.08.2008
Por Luiz Fernando Gallego
OPORTUNIDADE DE REVER 13 FILMES DE CARLOS SAURA

Uma revisão de filmes de Carlos Saura é oportuna: especialmente daqueles realizados no final dos anos 1960 e os da década de ‘70 quando Saura era o mais importante cineasta espanhol em atividade em sua própria terra (Buñuel filmava na França, com exceção de Tristana rodado em Toledo e - talvez - de poucas cenas de A Via Láctea/O Estranho Caminho de Santiago). Sua obra deste período reflete os anos crepusculares (mas ainda bastante coercitivos) da longa ditadura franquista através de aproximações metafóricas que guardam algumas semelhanças com os recursos utilizados pelo cinema brasileiro constrangido pela censura da nossa própria ditadura militar. Estimado por Buñuel, Saura também recebeu prêmios em festivais de cinema e apreço da crítica, obtendo também alguns resultados bem satisfatórios em termos de público, especialmente com Cria Cuervos (1976) que mereceu uma boa edição em DVD da Criterion Collection recentemente.



Tornou-se clichê dizer que com a queda de seu tema principal e objeto de crítica (o fascismo espanhol no poder), Saura também “perdeu a mão” para filmes significativos. E que sua parceria original com Antonio Gades para uma trilogia de filmes abordando a dança flamenca acabou por desandar em uma fórmula preguiçosa de conquistar um público fiel de amantes do flamenco (ou de dança em geral, como no filme abordando o tango argentino feito em Buenos Aires há dez anos).



Se de fato, sua carreira não manteve a uniformidade de resultados da fase mais antiga (há alguns filmes dos anos 1990 bem insatisfatórios), seria injusto desconsiderar o nome e a obra deste diretor cujos projetos recentes vêm sendo subestimados genericamente. É verdade que o Brasil não teve acesso a muitos de seus filmes e qualquer avaliação feita a partir dos lançamentos comerciais que tivemos será sempre bem parcial. Mas os títulos selecionados para a mostra que a Caixa Cultural do Rio de Janeiro está apresentando (entre 12 e 24 de agosto de 2008) são, quase todos, merecedores de algum reconhecimento – ou no mínimo, de revisão e reavaliação.



O destaque absoluto fica por conta de Elisa, Vida Minha, de 1977, que recebeu o prêmio de interpretação masculina em Cannes para Fernando Rey - que realmente se mostra excepcional no papel de pai de Geraldine Chaplin em desempenho sintonizado com o de Rey e não menos brilhante: a parceria da dupla de atores reflete o relacionamento intenso entre os personagens do pai e da filha naquele que poderíamos chamar – em uma brincadeira elogiosa – de melhor filme de Bergman que Bergman não dirigiu, guardadas as devidas proporções entre o gênio nórdico de um e o temperamento latino de outro. Mas o roteiro enigmático, as narrativas em off de textos femininos na voz de Fernando Rey e de textos masculinos na voz de Geraldine Chaplin, a mescla de cenas fantasiadas (por ele e por ela, mas quais as dele e quais as dela?) e o uso sensível de temas de Satie e Rameau, além de música ibérica medieval, faz deste filme um possível ápice na obra de Saura. ATENÇÃO: a versão lançada recentemente em DVD no Brasil é espúria, cortada em sete minutos em uma passagem, o que dificulta ainda mais a compreensão de um filme que exige atenção e cumplicidade do espectador.



Outra grande atração desta mostra é Antonieta que Saura lançou em 1982 a partir de um roteiro de Jean-Claude Carrière, co-roteirista de quase todos os filmes de Buñuel a partir de Diário de uma Camareira. Antonieta foi subestimado: não teve a receptividade esperada considerando os nomes do diretor e do roteirista. Nem mesmo o elenco que traz Isabelle Adjani e Hannah Schygulla (que só se encontram em uma breve cena sem diálogos) conquistou público e crítica em seu lançamento. Está mais do que em tempo de revisão.



Embora tenham tido lançamento em VHS no Brasil, Olhos Vendados (1978) e Doces Momentos do Passado (1982) ainda não receberam edição em DVD nacional e, só por isso já despertam interesse. O primeiro é o penúltimo filme da interessante parceria de Saura com a atriz (e sua então companheira) Geraldine Chaplin. E o segundo mostra um diretor teatral que busca uma atriz para uma nova encenação e a encontra em uma dubladora de filmes. Este tema alude à vida amorosa do cineasta?



Uma trupe mambembe em plena Guerra Civil espanhola foi o tema que reuniu Saura a Carmen Maura, atriz quase sempre associada a filmes de Almodóvar (que ganhou privilégio sobre Saura no gosto do público e da crítica como cineasta espanhol de maior destaque): Ai, Carmela! é outro que também não se encontra disponível por aqui há tempos, nem mesmo em DVD.



Flamenco marca o início da parceria de Saura com o grande fotógrafo Vittorio Storaro e o recurso a telões que mudam de cor, “cenários” desenvolvidos em Goya e Tango. Apenas Goya está nesta mostra. Em Flamenco, o aspecto documental da dança e da música é o que interessa. Já em Goya o recurso ganha função dramática em cenas oníricas de enorme beleza plástica.



Os demais são figurinhas fáceis na filmografia de Saura e foram lançados recentemente em DVD (embora seja sempre melhor assisti-los em película e em tela grande, como esperamos que seja esta mostra): caso de Mamãe faz Cem anos, da trilogia de filmes de dança com António Gades (Bodas de Sangue, Carmen e Amor Bruxo,) e dos mais recentes e menos celebrados Salomé (também de dança, menos inspirado e em formato um tanto “requentado”) e Sétimo Dia, que é um drama de vingança familiar baseado em fatos reais e mais interessante.



É uma pena que nenhum filme que tenha ficado inédito comercialmente no Brasil esteja disponível. São muitos, de receptividade mais ou menos insatisfatória no exterior: alguns muito ambiciosos, como El Dorado. A carreira irregular de Saura na década de 1990 rendeu filmes muito decepcionantes como Dispara e Taxi, felizmente ausentes desta retrospectiva - que lamentavelmente também não traz os tão festejados em seus lançamentos Ana e os Lobos, Prima Angélica e Cria Corvos.



Para detalhes sobre dias e hora de exibição entrar no site http://www.caixacultural.com.br . Atenção: alguns filmes terão uma única exibição.

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