O narcisismo não tem cor nem condição social. As Águas de Katrina é, a princípio, um documentário sobre a devastação de New Orleans pelo furacão que assolou a cidade em 2005 - e a deficiência das autoridades em socorrer as vítimas, em especial a parte mais pobre da cidade.
Mas o furacão não está presente, a devastação é vista em imagens frias e a deficiência das autoridades só pode ser vista com uma lupa. O filme é, na verdade, sobre Kimberly e Scott.
Quem são Kimberly e Scott? Um casal de moradores da região de classe média baixa. Eles passam o filme reclamando que os EUA estão tratando os americanos como cidadãos do terceiro mundo “e isso não é justo porque não estamos na Africa”.
Kim e Scott são negros e são racistas. Tem nostalgia de um mundo pobre que eles não conheceram. Querem aparecer na TV. Prefeririam estar no Big Brother, mas só o que têm pela frente é a câmera de Tia Lessin e Carl Dean. Não importa. Um e outro agem exatamente como se fossem Pedro Bial à procura de dois negros que pareçam inconformados, que falem compulsivamente mal dos seus governos, que cantem rap político (sic) e que mintam a cada frame sobre seus reais sentimentos. São pessoas pequenas, auto-centradas, que não representam nada - senão o triste modelo de vida que abraçaram - os personagens que Lessin e Dean escolheram para protagonizar o seu filme.
E tiram deles o que eles lhes podem dar. Arrogância, vaidade, tolices. Exceto pelo fato de aparecer alguém com a câmera, o dia depois do Katrina não é, para eles, diferente de qualquer outro dia. O que Lessin e Dean nos dão é um filme pobre, desprezível, irrelevante. E nauseabundo, filmado com uma câmera que dá solavancos permanentes na mão de seu operador. É difícil ver as imagens e é quase impossível ficar sereno diante do conjunto de bobagens que elas expressam.
# AS ÁGUAS DO KATRINA (TROUBLE THE WATER)
EUA, 2008
Direção: TIA LESSIN e CARL DEALE
Duração: 95 minutos
Site oficial: http://www.troublethewaterfilm.com/