A maneira como se conta uma história é mais importante do que a história em si, como fica claro em Delta . A preocupação de Kornél Mundruczó com o ato de filmar transparece na forma de abordar o amor entre dois irmãos, Mihail e Fauna, tardiamente apresentados.
O trabalho de câmera é refinado, não só no que se refere ao posicionamento e à distância escolhidos para registrar as cenas como, em especial, no modo como se detém no rosto de cada personagem e se desloca de um para o outro. Num certo sentido, Delta parece ser um filme sobre o (tempo do) olhar.
Mundruczó também explora diferentes qualidades de silêncio – o afetivo, que se estabelece entre os irmãos, e o ruidoso, referente aos rudes habitantes da comunidade, ambos preenchidos de significado. A música não adquire caráter ilustrativo, formando, em algumas passagens, uma espécie de espessura com a carga de não-dito.
São elementos que potencializam a determinação de Mihail e Fauna em construir um mundo melhor do que aquele no qual estão inseridos, emoldurado por bela e desolada paisagem. Enfrentam dose imprevista de intolerância, abordada talvez por meio de tintas carregadas demais ao final – ainda que não caiba propriamente fazer qualquer objeção à desesperança do realizador em relação à natureza humana.
# DELTA
Hungria/Alemanha, 2008
Direção: KORNÉL MUNDRUCZÓ
Elenco: FÉLIX LAJKÓ, ORSI TÓTH, LILI MONORI
Duração: 92 minutos