Atualmente no cinema francês existe um grupo de cineastas que focam seus trabalhos na periferia da cidade luz: são os chamados banlieu. Os dois nomes mais consistentes são Abdellatif Kechiche (O Segredo do Grão) e Rabah Ameur-Zaïmeche, que permanecem praticamente desconhecidos do público brasileiro. Apesar de trabalharem com temáticas próximas ao universo nacional, entre elas trabalho e educação.
Zaïmeche chega a seu terceiro filme com O Último Reduto e nota-se um aperfeiçoamento em seu trabalho como realizador: há um estudo elaborado do enquadramento e movimentos de câmera cientes plenamente daquilo que se deseja captar. Mas, por estranho que pareça, isso torna a sua narrativa mais coesa e comportada; a deficiência anterior ou a sua pulsão em realizar tornavam seu cinema mais vivo. Ele está sim em evolução no seu trabalho como diretor, mas parece correr menos riscos para isso ao focar a sua narrativa em um realismo extremo com uma decupagem bem realizada.
O primeiro plano já insere inteiramente o micro-universo de O Último Reduto: um plano geral fixo, e de média duração, que apresenta operários trabalhando em empilhadeiras, ou seja, um espaço exíguo e poucos personagens. Não há nada de idílico na seqüência, na verdade a ambientação remete a qualquer porto de trabalhadores no mundo. A câmera de Zaïmeche vai se fixar sempre em personagens à margem, bem distantes de cartões-postais. Nesse caso, a comparação direta que pode existir é com a filmografia do britânico Ken Loach (Ventos da Liberdade), porém Rabah não segue a linha de panfletário de uma causa: é através do choque de idéias que constrói a sua história envolvendo patrão e empregados.
A primeira parte de O Último Reduto reserva os dois melhores momentos do longa: em uma cena, um operário pára de conversar com o outro por causa do barulho do avião; o plano permanece fixo em um rosto que espera o momento certo para retomar a fala; o despojamento formal dos dois longas anteriores surge em um debate sobre a escolha de um representante religioso, mesmo com deficiências na direção, o clima “naif” dá o tom de uma maneira muito mais simples e direta do que a apressada discussão no desfecho por direitos. Esta é ilustrada com câmera na mão na qual, pela primeira vez, Zaïmeche perde o controle do registro e não encontra uma forma adequada de narrar os acontecimentos, que culmina em uma exposição simplória de um tipo de cinema político padrão.
A direção de elenco consegue extrair boas atuações, com todos sendo o mais natural possível; em uma tomada na qual um operário discute sobre o aumento com o patrão pode-se perceber a força de um não-ator sendo bem aproveitada em cena. Há um nítido espaço para improviso, inclusive, com a repetição da fala. Quanto menor a rigidez de execução maior são os acertos em O Último Reduto.
O ÚLTIMO REDUTO (DERNIER MAQUIS)
Argélia/França, 2008
Direção: RABAH AMEUR-ZAÏMECHE
Elenco: MOHAMED FELLAG, ABEL JAFRI
Duração: 93 minutos