Críticas


FRONTEIRA DA ALVORADA, A

De: PHILIPPE GARREL
Com: LOUIS GARREL, LAURA SMET
05.04.2009
Por Luiz Fernando Gallego
PELES FINAS EM PELÍCULA FRÁGIL

Texto escrito durante o Festival do Rio 2008



Novamente Philippe Garrel trabalha com o fotógrafo William Lubtchansky e com seu filho, o ator Louis Garrel (de Os Sonhadores) - e mais do que em Amantes Constantes, Louis está com um jeito deJean-Pierre Léaud quando adulto jovem, especialmente na primeira metade deste A Fronteira da Alvorada. E o filme do pai Garrel, neste mesmo trecho faz lembrar os mais sombrios de Truffaut, como La Peau Douce (no Brasil, Um Só Pecado).



Mas o diretor Garrel não tem a forma aparentemente ligeira que Truffaut mantinha ao trabalhar com histórias bem distantes da imagem (superficial) que se construiu do autor de filmes "leves" - mas que fazia obras mórbidas como O Quarto Verde, com o qual a segunda parte de A Fronteira da Alvorada tem alguma proximidade. E mais ainda, chega perto de A História de Marie e Julien, obra excepcional de Jacques Rivette, lamentavelmente inédita comercialmente por aqui, mas exibida no Festival do Rio de 2004.



Uma questão bem evidente no novo filme de Garrel é relativa à atriz Laura Smet, que parece diretamente egressa de sua participação em A Dama de Honra, "noir" estereotipado de Claude Chabrol: apesar da sua personagem ser mesmo emocionalmente complicada, seu desempenho é quase sempre "duro", ela não favorece a empatia do espectador e nem parece ter a maleabilidade da mãe, a talentosa Natalie Baye. Isto fica mais evidente através dos personagens que lhe tem sido destinados, tanto no filme de Chabrol como neste.



No final das contas, a mistura de Louis Garrel com ares de neo-Léaud somado à Laura sombria de A Dama de Honra em clima que oscila de La Peau Douce aO Quarto Verde e a Marie e Julien sugere que, mais uma vez, o Garrel-pai quer reciclar a nouvelle vague, agora não só na forte fotografia, granulada e em preto-e-branco, mas também em alguns temas de seus companheiros da época em que o movimento surgiu. Lamentavelmente, o resultado, lá pelo final do filme, beira o patético e quase chega ao ridículo.



Neste texto não haverá spoiler detalhando a evolução do enredo (e de sua narrativa visual), nada que prejudique a surpresa de um provável futuro espectador será escrito aqui. Apenas assinalamos que a situação inicial poderia ser interessante: a personagem de Laura tem "pele fina" e não suporta bem separações ou frustrações; e o personagem de Louis também vai se revelar susceptível, não só por ciúmes, mas também revelando enormes dificuldades em sobreviver às perdas. Alem do mais, ele vai se envolver com outra moça que também já teria tido problemas emocionais, como a personagem de Laura. O pai da segunda namorada o adverte que ela é "frágil". Mas quem não é frágil neste filme? Todos os personagens são. O problema é a fragilidade dos resultados dentro da proposta pretensiosa de Philippe Garrel com sua linguagem em busca de afetada elegância formal, por exemplo, usando antigos recursos do cinema francês reciclados pela nouvelle vague - como no caso do fechamento da cena "em íris", coisa que Truffaut tanto reutilizou -, mas sem a mesma fluência narrativa deste e nem a densidade do Rivette de Marie e Julien. A música, ainda que adequada ao clima pretendido é utilizada de modo insistente e rebarbativo.



# A FRONTEIRA DA ALVORADA (LA FRONTIÈRE DE L´AUBE)

França, 2008

Direção: PHILIPPE GARREL

Roteiro: Marc Cholodenko e Arlette Langmann

Fotografia: William Lubtchansky

Edição: Yann Dedet

Elenco: Louis Garrel, Laura Smet, Clémentine Poidatz, Olivier Massart.

Duração: 105 minutos

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