Críticas


MENINO DO PIJAMA LISTRADO, O

De: MARK HERMAN
Com: David Thewlis, Vera Farmiga, Asa Butterfield, Jack Scanlon
11.12.2008
Por Luiz Fernando Gallego
A VIDA É FEIA

Texto escrito durante o festival do Rio 2008



Baseado em best-seller com griffe de 3 milhões de livros vendidos pelo mundo, O MENINO DO PIJAMA LISTRADO, em sua versão cinematográfica pode ser considerado o outro lado de A Vida é Bela, onde o tom de comediota foi trocado pelo de dramalhão - o que pode ser considerado como outra apropriação perversa de eventos históricos que não careceriam de ainda maior ênfase (melo)dramática na ficção do que já foram trágicos na realidade.



Não conhecendo o texto literário (?) de John Boyne, o autor do livro original, o que vemos no filme - rotineiro como espetáculo – assinado por Mark Herman (também roteirista) peca pela inverossimilhança, o que não importaria nada se se tratasse de uma abordagem com formato menos “realista” para a única bela e forte imagem do filme: os dois meninos, um de cada lado das grades eletrificadas de um campo de concentração. Uma boa idéia para uma obra na linha do “absurdo” (embora um absurdo que veio da realidade, aqui banalizada em filme de rotina dentro dos padrões do cinemão anglo-saxônico).



O enredo é todo fabricado para seu suposto surpreendente final – que, no entanto, é razoavelmente previsível em termos do que vai acontecer, embora não tanto de como vai acontecer. E o como é absurdamente inconvincente, voltado para chocar e arrancar lágrimas da platéia, na verdade, lembrando bastante algo do antigo (só que magnífico) Monsieur Klein, de Joseph Losey, interpretado por Alain Delon, e que é uma obra-prima de emoção reflexiva.



Outra problematização que se coloca para este filme é o modo pelo qual a manipulação do espectador visa a identificação maior e inicial com um garotinho alemão, “ariano”, bonzinho, bonitinho e bem cuidado (até certo ponto) para só secundariamente provocar comoção para com os discriminados que “não são pessoas” do ponto de vista nazista, os judeus enviados para os campos.



Pode até ser que a falta de senso histórico gritante na pós-modernidade de nossa cultura do narcisismo, do espetáculo e da indiferença, precise deste caminho vicariante – que não deixa de ser tão perverso e pervertido quanto foi a busca da comédia no patético A Vida é Bela: troque-se a comédia pelo melodrama enfático e temos dois lados de uma mesma moeda podre.



Esta encenação manipuladora para surdos e cegos pela indiferença e descompromisso histórico seria o único (questionável) álibi para tal tipo de abordagem que, na verdade, quer explorar - com intuito de “jogar para a platéia” acostumada a soap operas - mais do que retratar com seriedade os horrores nazistas: a (falta de) sensibilidade contemporânea precisaria de caminhos tortuosos para despertar as consciências, a noção de historicidade e significado dos fatos reais?



Do jeito que é este filme, o que temos é o predomínio da convenção do cinema de lágrimas da ficção sobre a realidade que - mais do que de lágrimas - precisa ser pensada e repensada.



# O MENINO DO PIJAMA LISTRADO (The boy in the striped pyjamas)

Inglaterra/EUA, 2008

Direção: MARK HERMAN

Roteiro: Mark Herman baseado em romance de John Boyne

Fotografia: Benoît Delhomme

Edição: Michael Ellis

Música: James Horner

Elenco: David Thewlis, Vera Farmiga, Asa Butterfield, Jack Scanlon

Duração: 94 minutos

Site oficial: http://www.thefilmfactory.co.uk/boy/

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