Críticas


FESTIVAL DO RIO 2008: VELHA JUVENTUDE

De: FRANCIS FORD COPPOLA
Com: TIM ROTH, ALEXANDRA MARIA LARA, BRUNO GANZ
11.10.2008
Por Luiz Fernando Gallego
FRANCIS FORD COPPOLA, SEU PASSADO O ESPERA

Baseado em uma ficção de Mircea Eliade – mais conhecido como estudioso da história das religiões e filósofo – o roteiro de Francis Ford Coppola para Velha Juventude pode ser facilmente associado ao título do livro mais famoso do historiador romeno, O Mito do Eterno Retorno. Mas quem acompanha a obra de Coppola encontrará ecos de outros filmes seus já menos prestigiados quando foram lançados: Jack (com Robin Williams, de 1996) e Peggy Sue - Seu Passado a Espera, de 1986.



A questão da dessincronia entre a idade cronológica e o envelhecimento em Jack surge agora invertida: o personagem interpretado por Tim Roth, ´Dominic Matei´, pode ser visto aos 88 de idade com aparência de 40 anos. Ou não.



Como em Peggy Sue, ele pode se mover no tempo – mas em vez de se voltar para o passado, talvez tenha se movimentado para o futuro. Com direito a um “eterno retorno”? Ou o “retorno” é de uma mulher (ou várias?) que teria(m) vivido em tempos ancestrais e cujas almas incorporam em ‘Veronica’ - que ele conhece em 1955, mas logo reconhecendo nela a já falecida ‘Laura’ que ele amou ainda no final do século XIX?



Portanto, mais ainda do que aos filmes já citados, Youth without Youth (título original) remete ao Drácula que ele lançou em 1992. Nesta versão, Mina, a mulher que o vampiro persegue obcecadamente no início do século XX, seria a reencarnação de outra (Elisabetta – que inexiste no romance original de Bran Stoker) por quem ele havia sido apaixonado na Idade Média. Enquanto ele permaneceu vivo desde então às custas de sangue alheio, ela havia morrido, mas revivendo em Mina.



Será que, depois de dez anos sem filmar, esta nova produção de Coppola, filmada na Romênia (terra do real "Vlad, o empalador" que inspirou a lenda de Drácula), revela obsessões do diretor da trilogia The Godfather?



A questão é que o enredo parece não se decidir entre valorizar a passagem de Dominic por eventos históricos significativos do Século XX e questões ligadas a religiões orientais (como pano de fundo para um romance de amor impossível como o de O Retrato de Jennie que William Dieterle filmou em 1948). Religiões são assunto importante na obra de Eliade, mas aqui é mais fácil pensar em filmes como o mencionado Jennie que foi plagiado no menos antigo Algum Lugar do Passado.



Na primeira parte do filme há lances rocambolescos ligados ao nazismo, tema que posteriormente é abandonado como se não passasse de uma digressão que não interessaria tanto porque o foco se desloca para reencarnação, metempsicose, carma, etc. Uma ambivalência, talvez, já que sobre Eliade em alguma época pesaram acusações de simpatia para com o fascismo e com o anti-semitismo nazi.



O tema do “duplo” também surge sem desenvolvimento satisfatório, ficando a tragédia do personagem ligada à hybris, no caso dele, a ambição desmedida de pretender escrever sobre o “nascimento da consciência no ser humano” e sobre a “origem da linguagem”. Uma possível alusão para com a desmesura nazista poderia passar pela cabeça do espectador, mas não é assumida pelo filme que se perde no cruzamento de tantos caminhos e possibilidades, mas lamentavelmente se encerra como um episódio alongado de Além da Imaginação filmado por um cineasta competente que consegue seduzir visualmente a platéia, mas não a gratifica com uma obra conseqüente e inspirada como as de seu cada vez mais distante passado de glória: Francis Ford, seu passado o espera.



# VELHA JUVENTUDE (Youth without Youth)

Romênia / França / Itália, 2007

Direção: FRANCIS FORD COPPOLA

Roteiro: Francis Ford Coppola baseado em obra de Mircea Eliade

Fotografia: Mihai Malaimare Jr.

Edição: Walter Murch

Direção de Arte: Ruxandra Ionica e Mircea Onisoru

Música: Osvaldo Golijov

Elenco: Tim Roth, Alexandra Maria Lara, Bruno Ganz

Duração: 124 minutos

Site oficial: http://www.ywyfilm.com/





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