Esqueça o infeliz título em português, Fatal, que parece mais uma tentativa de vender o filme como um thriller erótico ou algo parecido. O original Elegy resume com perfeição o que é esse novo filme americano da diretora espanhola Isabel Coixet (de A Vida Secreta das Palavras): um belo poema de amor triste, uma elegia na acepção do termo literário.
Grata surpresa constatar, 36 anos depois de O Último Tango em Paris, que ainda é possível abordar a relação entre um homem maduro e uma mulher mais jovem sem cair nas armadilhas dos lugares comuns. Isabel Coixet não é nenhum Bertolucci, mas possui o raro dom de saber filmar a cumplicidade sexual, com as Gnossiennes de Erik Satie fazendo as vezes de Gato Barbieri na trilha sonora.
Mérito dela e do roteirista Nicholas Meyer, que conseguiram adaptar o ótimo romance O Animal Agonizante, de Philip Roth, sem perder a esseência do que o livro tem de melhor: a profundidade da auto-reflexão bem humorada e inteligente feita pelo professor David (magistralmente interpretado por Ben Kingsley) acerca de sua condição masculina. Ao se ver “enfeitiçado” pelo charme e pelos atributos físicos de sua aluna Consuela (Penelope Cruz), todas as suas convicções de solteirão convicto e garanhão dominador são abaladas. Pela primeira vez, ele é assombrado por temas como o ciúme, a senilidade e a paternidade.
Longe da banalização da relação homem-mulher imposta por filmes como Sex and The City, o discurso e os dilemas de David soam verdadeiros na tela. Sem contar o prazer que é assistir a um filme ambientado na Manhattan dos intelectuais, e ver Dennis Hopper e Ben Kingsley sentados num café divagando sobre suas técnicas de sedução.
# FATAL (ELEGY)
EUA, 2008
Direção: ISABEL COIXET
Roteiro: NICHOLAS MEYER
Fotografia: JEAN-CLAUDE LARRIEU
Edição: AMY E. DUDDLESTON
Elenco: BEN KINGSLEY, PENELOPE CRUZ, DENNIS HOPPER, PATRICIA CLARKSON, PETER SARSGAARD
Duração: 113 min.