Críticas


MEU NOME É DINDI

De: BRUNO SAFADI
Com: DJIN SGANZERLA, GUSTAVO FALCÃO, CARLO MOSSY, MARIA GLADYS, NILDO PARENTE
10.11.2008
Por Daniel Schenker
CELEBRAÇÃO DO PASSADO

“Quando a gente é criança o mundo é outro. Eu não imaginava que teria um futuro tão complicado”, diz Dindi, personagem-título do filme de Bruno Safadi. De fato, ela não vive dias favoráveis. Dona de uma quitanda, enfrenta a concorrência acirrada de um supermercado e as cobranças acintosas e violentas de um açougueiro a quem deve dinheiro.



O passado reverbera com força em Dindi, a exemplo da seqüência em que traz à tona um refrão que sua avó cantava. Através de sua protagonista, Safadi, de 28 anos, celebra a nostalgia como poucos. Emoldura Meu Nome é Dindi com evocações da época de ouro no rádio (citações a Dalva de Oliveira, Pixinguinha, Radamés Gnatalli), período em que o Rio de Janeiro era capital do Brasil.



Já o presente não é visto com bons olhos. “Isso agora está entregue aos bandidos”, constata a personagem de Maria Gladys, em relação à zona portuária do Rio, onde se passa boa parte da história. A própria quitanda de Dindi simboliza o desejo de manter viva uma tradição de família, um espaço amoroso, cravejado de lembranças, em contraponto ao supermercado, negócio impessoal.



O valor afetivo perdeu espaço para o pragmático, destaca Bruno Safadi. É possível traçar uma conexão com o ótimo Durval Discos , de Anna Muylaert, que registrou a dificuldade de mãe e filho em manter uma loja de discos num contexto dominado pelos CDs. Talvez mais claramente no filme de Muylaert que no de Safadi, fique claro que novos costumes tendam a se sobrepor aos antigos sem, porém, anulá-los por completo.



Os dois cineastas também se valem do realismo para, a partir de dado momento, abandoná-lo. Esta alternância é mais frisada por Anna Muylaert. Seja como for, a alternância de registros valoriza determinados pontos em Meu Nome é Dindi , como a impressão transmitida pela protagonista de que a vida ilusória (tanto no que se refere ao desejo de trazer o passado de volta quanto ao de fugir e mudar de nome, reinventando a si mesma) é melhor que a real.



Mas a eventual suspensão de uma verossimilhança segundo os moldes realistas não é suficiente para justificar certas opções, como o fato de o soldado interpretado por Gustavo Falcão revelar que praticamente desconhece Tom Jobim quando a personagem explica sobre a origem de seu nome e o surto paranóico de ambos ao serem confrontados com o até então nebuloso personagem de Nildo Parente (em boa interpretação), trajado de palhaço, na praia.



Eventuais restrições ao roteiro (assinado pelo próprio Safadi), porém, não ofuscam as qualidades de Meu Nome é Dindi , vencedor do júri da crítica na 11ª edição do Festival de Tiradentes, como, além das citadas, a valorização de uma partitura sonora, que, à medida que a projeção avança, torna-se importante camada do filme. Um elemento, vale lembrar, destacado com propriedade por Murilo Salles no recente e excelente Nome Próprio .



E a contracena entre passado e presente, coração deste filme de Bruno Safadi, sobressai ainda na escalação dos atores. Djin Sganzerla é filha de dois ícones do cinema brasileiro – o diretor Rogerio Sganzerla, representante do Cinema Marginal e fundador com Julio Bressane da produtora Belair (citada em Meu Nome é Dindi e tema do próximo filme de Safadi) e a atriz Helena Ignez, musa de Sganzerla e Bressane. Uma das intérpretes mais interessantes de sua geração, premiada com justiça no Festival de Brasília por seu trabalho em Falsa Loira , de Carlos Reichenbach, Djin, ainda que se possa considerar aqui sua atuação um pouco derramada (em especial, na passagem da praia), esbanja intensidade. Também no elenco estão Carlo Mossy, um dos principais representantes da fase da pornochanchada, e Maria Gladys, outro nome de ponta do Cinema Marginal.



# MEU NOME É DINDI

Brasil, 2007

Direção e Roteiro: BRUNO SAFADI

Fotografia: LULA CARVALHO

Montagem: RODRIGO LIMA

Música: AURÉLIO DIAS

Produção: TIAGO BACELAR

Elenco: DJIN SGANZERLA, GUSTAVO FALCÃO, CARLO MOSSY, MARIA GLADYS, NILDO PARENTE

Duração: 85 minutos



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