Críticas


DESERTO FELIZ

De: PAULO CALDAS
Com: NASH LAILA, PETER KETNATH, MAGDALE ALVES, HERMILA GUEDES, JOÃO MIGUEL, ZEZÉ MOTTA
09.12.2008
Por Daniel Schenker
INTRIGANTES LACUNAS

Paulo Caldas suprime as passagens de deslocamento no modo como registra a jornada da adolescente Jéssica (a estreante Nash Laila), que sai do sertão rumo à cidade grande, seguindo depois para a Europa. Realçadas pela montagem de Vânia Debs, as elipses são empregadas nos dois momentos de transição da protagonista e também inseridas dentro de cada um dos três blocos do filme – o primeiro, ambientado em Deserto Feliz, localidade do sertão, o segundo, em Recife, e o terceiro, em Berlim. Exemplo: o espectador não só não “acompanha” Jéssica deixando o Brasil em direção à Alemanha como já a encontra em terra estrangeira dominando o idioma. Talvez o filme de Caldas seja sobre o tempo que não se vê passar, como assinala a cafetina interpretada por Zezé Motta.



O cineasta evita fornecer explicações ao público a respeito de Jéssica, que, violentada, começa a trabalhar como prostituta até conhecer um turista (Peter Ketnath) e dar uma guinada na vida. Investe em silêncios, imagens embaçadas e closes incômodos para abordar personagens que parecem não decodificar plenamente aquilo que sentem. A música triste, suave, emoldura o filme. Não é o único registro sonoro que chama atenção. Há uma espécie de partitura composta por sons domésticos inserida de maneira expressiva nas lacunas entre as poucas falas na parte ambientada em Deserto Feliz, em especial nas cenas de Jéssica com a mãe (Magdale Alves, ótima) e o padrasto (Servilio de Holanda).



Já no segundo ato, passado em Recife, sobressai um registro interpretativo espontâneo, encontrado em muitas produções brasileiras dos últimos anos, calcadas na construção de um naturalismo. Os trabalhos de Nash Laila e Hermila Guedes evidenciam este procedimento. As atrizes alcançam uma organicidade distante do banal e estabelecem uma contracena no presente imediato. Esta e outras opções fazem de Deserto Feliz um filme bastante curioso, sinalizando um percurso promissor para Paulo Caldas, depois dos resultados satisfatórios alcançados com Baile Perfumado (assinado, em parceria, com Lírio Ferreira) e O Rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas .



# DESERTO FELIZ

Brasil, 2007

Direção: PAULO CALDAS

Roteiro: PAULO CALDAS, MARCELO GOMES, MANOELA DIAS, XICO SÁ

Produção: GERMANO COELHO FILHO

Fotografia: PAULO JACINTO DOS REIS

Música: ERASTO VASCONCELOS, FÁBIO TRUMMER

Montagem: VÂNIA DEBS

Direção de Arte: MOACYR GRAMACHO

Elenco: NASH LAILA, PETER KETNATH, MAGDALE ALVES, HERMILA GUEDES, JOÃO MIGUEL, ZEZÉ MOTTA

Duração: 88 minutos

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