Críticas


RIO CONGELADO

De: COURTNEY HUNT
Com: MELISSA LEO, MISTY UPHAM, JAMES REILLY, MARK BOONE JUNIOR.
13.02.2009
Por Leonardo Luiz Ferreira
UM CONTO DE NATAL

Uma espécie de revolução dentro do cinema independente americano se inicia com o surpreendente êxito de sexo mentiras e videotaipe, de Steven Soderbergh, durante a sua consagração com a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1989, quando tinha apenas 26 anos. O filme revelou um diretor promissor, que depois manteve uma carreira irregular, mas, sem dúvida, com momentos de interesse, e deu autonomia a milhares de jovens cineastas para que iniciassem as suas carreiras em busca de espaço para seus projetos autorais. O festival que deflagrou todo esse momento de mudança foi o de Sundance, criado pelo ator Robert Redford, que abriu espaço para uma nova geração em filmes de baixo orçamento e longe do mainstream. Com o passar do tempo, isso foi se tornando uma grife e legitimou um selo de qualidade nos filmes alternativos. Mas, na realidade, houve uma padronização nos longas tanto na forma quanto no conteúdo. E a experimentação e liberdade do princípio cederam lugar para roteiros medíocres e tiques modernos de cortes rápidos, câmera na mão e fotografia estilizada.



A trajetória da diretora Courtney Junt começa exatamente com a sua conquista (grande prêmio do Júri) no Festival de Sundance 2008 ao apresentar na seleção oficial o seu dèbut cinematográfico, Rio Congelado. Porque até então era uma simples desconhecida, sem nenhum trabalho em seu currículo. A validação do corpo do júri ao lhe outorgar um prêmio fez com que seu pequeno drama se tornasse a nova sensação independente, que assola todo ano a crítica americana, e que culminou com sua indicação ao Oscar pelo seu roteiro original, além de uma nomeação para a atriz principal, Melissa Leo. Porém ao escrutínio de seu filme não se encontra nada de realmente talentoso para justificar as nomeações, prêmios e a fama repentina.



Rio Congelado tem início com uma série de planos rápidos que buscam registrar detalhes de uma cidade americana, situada na fronteira com Quebec, no Canadá, dominada pela neve. A composição das cenas segue a placidez pictórica da desolação que envolve o ambiente. Mas nunca se forma uma relação real entre o personagem e a paisagem gélida; isso porque para Hunt interessa narrar a sua história e passar a mensagem moral no desfecho. A câmera passeia por um corpo de uma mulher que chora em um breve momento. Em pouco tempo, Rio Congelado se estabelece como um fruto comum do cinema independente americano, em especial, por dois elementos: a câmera na mão e o balanço natural nas cenas para dar um caráter ao mesmo tempo realista e artístico; e a escolha da temática da disfunção familiar, com o filho rebelde, o pai ausente e os usuais diálogos de tensão e exposição dos fatos. Entretanto, é na tentativa de abarcar outros subtemas que o filme, provavelmente, chamou a atenção de júri, público e crítica. Porque ao lado da história central da mãe que começa a transportar ilegais em seu carro para conseguir manter vivo o “american dream” da casa própria são destilados o preconceito com os índios, a xenofobia e a corrupção policial. É a cineasta a serviço de seu próprio roteiro que vai limitar Rio Congelado aos temas e reviravoltas, e não aos personagens, relações e a jornada da personagem principal.



A veracidade da ação se escora em uma certa ingenuidade da mãe, que parece se surpreender com cada descoberta a respeito do transporte de trabalhadores ilegais, inclusive com o espanto da polícia estar envolvida em alguns casos. Por mais interiorana que seja, isso jamais seria possível. Porém, a personagem está aprisionada ao roteiro de Hunt, que a move de um lado para o outro em uma tentativa frustrada de gerar reflexão no espectador a respeito da questão moral de sua atitude. E para isso se utiliza de todos esquematismos possíveis no desenvolvimento do script: a virada da trama (plot point) com uma bolsa deixada para trás em uma alusão constrangedora ao terrorismo; e sublinhar que a moça só fará o transporte mais uma vez para comprar a casa em um movimento evidente de um futuro desfecho negativo. Além da rápida tomada de consciência da personagem entre um plano e outro para reafirmar a condição do filme de um verdadeiro “conto de natal” de mensagem explícita.



# RIO CONGELADO (FROZEN RIVER)

EUA, 2008

Direção e Roteiro: COURTNEY HUNT

Fotografia: REED MORANO

Edição: KATE WILLIAMS

Direção de Arte: BRIAN RZEPKA

Música: PETER GOLUB e SHAHAZAD ISALY

Elenco: MELISA LEO, MISTY UPHAM, CHARLIE McDERMOTT, MICHAEL 0’KEEFE, JAMES REILLY, MARK BOONE JUNIOR.

Duração: 97 minutos

Site oficial: http://www.sonyclassics.com/frozenriver/

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