Críticas


HOMEM DE MORAL, UM

De: RICARDO DIAS
Com: PAULO VANZOLINI, CHICO BUARQUE, PAULINHO DA VIOLA, MIUCHA, MARTINHO DA VILA.
04.06.2009
Por Patricia Rebello
O COMPOSITOR DO BRASIL DOS QUAISQUER

Paulo Vanzolini é quase um sujeito qualquer. Desses pelos quais a gente passa desapercebido, diz bom dia de manhã ao cruzar na padaria e comenta que parece que hoje vai chover. Ele quase poderia ser o seu vizinho, quase poderia ser o avô gente boa do seu amigo, o sujeito que puxa papo na fila do banco. E porque parece esse tipo de gente do qual a gente não se dá conta, esse tipo invisível que atravessa nosso caminho todos os dias, consegue imprimir em suas composições estados de espírito quase impossíveis de descrever, de tão comuns. Levanta a mão quem nunca pegou emprestado para si um “De noite eu rondo a cidade / A te procurar sem encontrar...” ou um “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”.



Aliás, só para conhecer a explicação destas músicas já vale a pena assistir o muito simpático Homem de Moral, de Ricardo Dias, que entra em cartaz na onda de biografias musicais que assola o documentário brasileiro. O filme registra as gravações da coletânea “Acerto de Contas”, em 2002, quando a obra de Vanzolini foi reunida e cantada por grandes nomes da música brasileira. Essas imagens e sons abrem espaço para a forma como Ricardo Dias chega a seu personagem: ele se concentra na genealogia das letras, nas fontes de inspiração, no olhar cuidadoso sobre as vidas pequenas, na atenção aos minúsculos episódios do cotidiano, nos passes e impasses da escrita melódica. É claro que Dias não chega a qualquer conclusão, nem desvenda o segredo da magia das músicas de Vanzolini. Mas, isso lá importa?, importa mesmo é o prazer na trajetória, o respeito e o carinho com que o filme trata o personagem.



Um documentário musical por onde desfilam interpretações de artistas do porte de Paulinho da Viola, Martinho da Vila e Elton Medeiros precisa, no mínimo, de um grande protagonista pra não deixar a peteca cair quando a música pára. É na voz baixa, no jeito doce, no riso solto e nas explicações detalhadas de Paulo Vanzolini que o filme o encontra. Médico de formação, zoólogo com mais de cinquenta anos de laboratório, Vanzolini se define como um compositor de ocasião. Suas letras são produtos da observação minuciosa e do olhar atento que a profissão formou. E ele, tão tímido e encantador quanto os quatis e as ariranhas que estuda, leva o seu microscópio para a urbe paulista e debruça seu olhar sobre viadutos, pontes, auto-pistas, ruas lotadas, mercados populares e bares de esquina. E karaokês, é claro, dos quais “Ronda” é quase a melô oficial. Vanzolini escreve versos e faz rima com a cidade e seus habitantes. E é exatamente porque não quer dar conta de coisas complicadas como espírito ou essência, e sim dos problemas banais e imediatos do dia-a-dia, que São Paulo deve a ele precisamente a sua alma.



#UM HOMEM DE MORAL

Brasil, 2008

Direção e Roteiro: RICARDO DIAS

Produção: ZITA CARVALHOSA

Fotografia: CARLOS EBERT

Trilha sonora: ITALO PERÓN

Elenco: PAULO VANZOLINI, CHICO BUARQUE, PAULINHO DA VIOLA, MIUCHA, INEZITA BARROSO, MÁRCIA, MARTINHO DA VILA, ELTON MEDEIROS.

Duração: 84 minutos

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