Críticas


NOME DELA É SABINE, O

De: SANDRINE BONNAIRE
Com: SABINE BONNAIRE
08.08.2009
Por Patricia Rebello
A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DE SABINE BONNAIRE

São três os personagens do romance de Milan Kundera do qual peguei o título emprestado: Tomás, Teresa... e Sabina. Peguei emprestado porque lembrei dessa personagem; peguei o livro e encontrei a seguinte frase: “Para Sabina, viver significa ver”. No romance de Kundera, a leveza tem um sentido existencial de vazio, de falta de densidade, de ausência. Sabine Bonnaire, personagem principal do documentário O nome dela é Sabine, tem um olhar vazio e guarda suas memórias fora de si, em um baú trancado no quarto. Sandrine Bonnaire, diretora do filme, que decidiu mostrar o drama da irmã autista nas telas, tenta encontrar exatamente nesse olhar traços do passado, da infância, de uma pessoa que não está mais lá. E, assim como no romance, também na vida certos estados de leveza podem se revelar muito pesados.



Segundo Sandrine, desde pequena Sabine se mostrara uma criança ‘diferente’, que pedia um pouco mais de atenção. Depois de várias crises e tentativas de tratamento, por falta de um lugar que aceitasse uma paciente como ela, Sabine foi internada em um hospital, onde passou 5 anos. Quando saiu de lá, estava 30 quilos mais gorda e com os cabelos raspados; entupida de fortes medicamentos, havia perdido quase todas as capacidades funcionais e quase toda memória. Construído entre imagens da adolescência e do presente, o documentário se divide no registro afetuoso que a consagrada atriz faz do cotidiano da irmã em uma casa de repouso, e uma crítica (bem de leve) às condições de tratamento oferecidas aos doentes psiquiátricos na França.



Sandrine Bonnaire se divide entre a diretora e a irmã. Ela praticamente não aparece em nenhum quadro do filme. Mas apenas fisicamente. Talvez entre para a história como a presença mais ausente em um documentário em primeira pessoa. “Sandrine, é certo e seguro que você virá me ver amanhã?” pergunta Sabine mais ou menos a cada duas cenas. Nem sempre é respondida, e a imagem de uma angustiada Sabine, encarando de frente a câmera, chega por vezes a incomodar pela duração. Espera uma resposta? Faz sentido qualquer resposta? O que espera Sabine? Aliás, espera algo?



O que é a memória senão um pátio de milagres? A frase, do Nelson Rodrigues, resume como poucas o estado de espírito que atravessa o filme. Em uma entrevista sobre o filme ao canal francês Arte, Sandrine comentou que filmou e fotografou enlouquecidamente a irmã durante a juventude porque gostaria, um dia, de mostrar a ela imagens de um passado doloroso, mas já superado. “Aconteceu o contrário”, disse ela, com um sorriso lacônico no rosto.







O NOME DELA É SABINE(ELLE S’APPELLE SABINE)

França, 2007

Direção: SANDRINE BONNAIRE

Roteiro:SANDRINE BONNAIRE, CATHERINE CHABROL

Fotografia: SANDRINE BONNAIRE, CATHERINE CHABROL

Montagem:SVETLANA VAYNBLAT

Produção:THOMAS SCHMITT

Duração:90 minutos

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