Críticas


NORMAIS 2 – A NOITE MAIS MALUCA DE TODAS, OS

De: JOSÉ ALVARENGA JR.
Com: FERNANDA TORRES, LUIZ FERNANDO GUIMARÃES, CLAUDIA RAIA.
02.09.2009
Por Luiz Fernando Gallego
PESCOÇO EM FRANCÊS?

Não raramente as antigas chanchadas brasileiras dos anos 1950 eram ancoradas no carisma dos comediantes, a maioria originária do “teatro de revista” como Oscarito, Grande Otelo e Dercy Gonçalves. Algumas mais lembradas são as paródias de filmes hollywoodianos como Matar ou Correr e Nem Sansão nem Dalila, mas as histórias e roteiros foram ficando cada vez mais indigentes e o gênero naufragou na década seguinte.



Mais dez anos e foi sendo cunhada a expressão “pornochanchada” para produtos que espelhavam, a um só tempo, uma certa liberação nos costumes e a repressão moralista reativa a esta mudança: tal como um sintoma (uma solução de compromisso como postula a psicanálise), o gênero (?) também representava a ambivalência do regime ditatorial que censurava filmes sérios com cenas eróticas mais ousadas, mas não se importava tanto (claro que “excessos” podiam acabar igualmente censurados) com um grau de baixaria que podia ir de certa ingenuidade até muita grosseria machista, homofóbica e/ou misógina. A censura política também acabava sendo mais importante do que a “tolerância”, relativa que fosse, para com este subgênero. Liberados os filmes de sexo explícito, o formato também deixou de ser produzido, reduzido à sua expressão original de historietas com piadas “de sacanagem” da idade mental do “Juquinha”, famoso personagem deste tipo de piadas, um garoto “testicocéfalo” inveterado.



Atualmente, o cinema americano derrama dezenas de “filmes de adolescentes”, variante que remonta à já antiga série “Porky’s” (iniciada em 1982) e que deu frutos, por exemplo, em outra série, American Pie (nascida em 1999). Pode-se dizer que há um representante dessa linhagem em cartaz no Brasil há algumas semanas no lamentável Se beber, não case. Em resumo, são chanchadas (ou pornochanchadas) com a conotação negativa do “gênero”, ou seja: coisas plenas de grosseria em piadinhas mal-alinhavadas que seguem a linha de esquetes do pior que a televisão pode produzir.



Lamentavelmente, é neste grupo que se insere Os Normais 2 – A Noite mais maluca de todas, que sem a mesma graça (primitiva) dos antigos filmes da Atlântida com Oscarito e Grande Otelo, é inteiramente calcado nos atores principais, pois nem cabe discutir a direção de José Alvarenga Jr., menos inspirada do que o que o “feijão-com-arroz” (grudento) da TV. Nem ritmo o filme tem, parecendo ter muito mais do que seus curtos 75 minutos (que parecem duas longas horas), ficando logo bastante repetitivo em sua premissa, quando os personagens Rui e Vani, com o relacionamento em fase de desestimulo sexual, tentam esquentar os motores através da busca de uma parceira para um “ménage à trois”. Já não prometia muito, mas o que se segue vai além das piores expectativas.



Os créditos iniciais com Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães cantando “Vida Loca” engana enquanto dura o número, graças aos atores gaiatos pela própria natureza, mas nada mais se salva nas seqüências seguintes. Sem o carisma e histrionismo da dupla de atores, o filme seria ainda muito pior do que é – mas é difícil imaginar algo pior com um roteiro que faz piada (?) com a homofonia do termo francês para “pescoço” com o nome popular do ânus em bom português. Dá para acreditar que buscam o riso com esta “coincidência” de sons mais antiga do que a idade somada da dupla?



Também é difícil compreender como os atores acreditaram ou/e aceitaram o texto assinado por Fernanda Young e Alexandre Machado. Por bobinho que fosse, o roteiro da primeira incursão cinematográfica dos personagens consagrados na TV em Os Normais – O Filme (2003) tentava uma historieta mostrando os antecedentes dos personagens, o início da relação de Rui e Vani; a presença de Marisa Orth e Evandro Mesquita no elenco de apoio ajudava a retirar o peso excessivo de foco sobre os astros centrais. Mas neste Normais-2, Claudia Raia está totalmente pouco à vontade e - tal como a habitualmente competente Drica Moraes - não consegue tirar leite das pedras, já que os tipos existem apenas para atender às situações episódicas em uma série desenxabida de esquetes anêmicos e constrangedores.



Consta que teve boa bilheteria no primeiro fim-de-semana, mas na sessão em que estivemos (em dia útil) havia muito poucas pessoas vendo o filme e menos ainda risadas na platéia. Quem gosta de Se beber, não case talvez ache Normais-2 fracote em matéria de trama descabelada aliada a excesso de baixarias. E quem curtia o humor da dupla na TV tem chances de se decepcionar bastante com a tentativa de fazer graça com piadas (?) de segunda mão grosseiras e bem pouco inteligentes.



# OS NORMAIS 2 – A NOITE MAIS MALUCA DE TODAS

Brasil, 2009

Direção: JOSÉ ALVARENGA JR.

Roteiro: FERNANDA YOUNG e ALEXANDRE MACHADO

Fotografia: TUCA MORAES

Edição: ANÍBAL VEIGA

Elenco: FERNANDA TORRES, LUIZ FERNANDO GUIMARÃES, DRICA MORAES, DANIEL DANTAS, CLAUDIA RAIA.

Duração: 75 minutos

Site oficial:

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