Críticas


FESTIVAL DO RIO 2009: MOSTRA PREMIERE LATINA

De: VÁRIOS DIRETORES
Com: VÁRIOS INTERPRÉTES
02.10.2009
Por Críticos.com.br
MOSTRA PREMIERE LATINA - Festival do Rio 2009

A PRÓXIMA ESTAÇÃO (La Próxima Estación)



Direção: Fernando Solanas



por Carlos Alberto Mattos em 02/10/2009



Fernando Solanas possui a característica – talvez única – de um grande político que é também grande documentarista. Assim, seus filmes acabam sendo críticas e propostas muito concretas sobre a Argentina. Este seu último doc examina a história do transporte ferroviário no país desde a época de sua implantação pelos europeus até o sucateamento atual, passando por uma privatização desastrosa, o abandono, roubos, desemprego, emigração, morte de pequenas cidades.



Solanas conduz sua argumentação à viva voz e colocando-se pessoalmente diante de vítimas, algozes e cúmplices do panorama que denuncia. Obtém relatos emocionados e reações embaraçadas de autoridades que parecem não ter o que dizer. A busca de evidências e testemunhos escoa para um final dominado pela retórica da propaganda e o pronunciamento poético (“Os trens voltarão”). O velho guerreiro dá mostras de continuado vigor com seu cinema de articulismo político, embora aqui o tema seja de interesse mais local que a sua trilogia recente sobre as crises argentinas.



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NAVIDAD



Direção: Sebastián Campos



Por Leonardo Luiz Ferreira em 29/9/2009



A residência de roteiros na França por intermédio do programa da Cinéfondation, do Festival de Cannes, auxiliou bastante o realizador chileno Sebastián Campos levando-se em consideração o avanço em termos de dramaturgia com relação a seu primeiro longa, La Sagrada Família, e Navidad. Ao menos conseguiu encontrar uma forma adequada para expor o conteúdo, que é bem distinta de sua estreia confusa repleta de maneirismos contemporâneos de câmera na mão e vontade de provocar de qualquer forma.



Navidad é sobre o encontro entre três pessoas em uma casa: um casal em crise e um agente catalisador de mudanças na forma de uma jovem de 15 anos. No princípio, Sebastián investe em tempos mortos dos namorados em que a trama não é revelada por inteiro; aposta-se apenas na criação de uma ambientação. Porém, o que parecia uma maneira promissora de contar a história começa a sofrer com as pretensões de surpreender através de elementos e fatos externos: uma carta é descoberta e encaminha para a revelação de uma relação homossexual. Para contornar e deixar em suspenso o que se extrai do conflito, o diretor coloca um terceiro vértice no triângulo, que de interessante em um primeiro momento, passa a ocupar toda a atenção na narrativa em uma história mal desenvolvida sobre ausência paterna.



Aos moldes do mexicano E Sua Mãe Também, de Alfonso Cuáron, Navidad traduz o rito de passagem dos jovens através de uma experiência sexual catártica. É nesses planos, e numa bela cena de dança, que Campos demonstra eficiência na realização e justifica que a razão de existir de seu longa está no olhar desse encontro. Entretanto, ainda falta maturidade ao diretor para perceber até onde deve levar adiante a sua narrativa e o que merece ficar implícito.



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O SEGREDO DOS SEUS OLHOS (El secreto de sus ojos)



Direção: Juan José Campanella.



por Luiz Fernando Gallego em 29/09/2009



Apesar da produção caprichada e da presença muito interessante da atriz Soledad Villamil ao lado de um Ricardo Darín rotineiro (eficiente, mas o de sempre, quase sem modulação) O Segredo dos seus Olhos peca ao tentar atirar em tantas direções. O eixo central une um mistério criminal e a obsessão de um homem no sentido de tentar desmascarar um assassino, não deixando impune uma violência bárbara. O tema lembra o de uma sombria história de Friedrich Dürrenmatt filmada cinco vezes desde 1958, a última em 2001 (A Promessa) por Sean Penn. Mas o roteiro do diretor Juan José Campanella (O Filho da Noiva) e de Eduardo Sacheri, autor do romance original, salta muito rapidamente de um estupro seguido de morte para passagens cômicas a cargo de um personagem interpretado por Guillermo Francella. Soa quase imoral.



Outra ideia interessante era a do acobertamento de psicopatas a serviço de governos repressores da liberdade e da democracia tal como a Argentina viveu tantas vezes durante tantos anos. Mas isso também não é levado adiante. Por fim, um romance de difícil concretização ganha a mesma importância como gancho de suspense (vai acontecer ou não?) quanto a questão detetivesca.



Ao pretender seduzir a plateia com ênfase nos lances de humor e romance para atenuar os aspectos mais densos, deixa a impressão de covardia por não enfrentar nem desenvolver o melhor do enredo.



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A CRIADA (La Nana)



Direção: Sebastian Silva



por Luiz Fernando Gallego em 27/09/2009



A empregada doméstica que fica com a mesma família por muitos anos, participando da intimidade de um grupo ao qual não pertence de fato, mas com o qual interage de forma ambígua, pode ser um tipo bem brasileiro. No caso, o filme é chileno, mas a questão não é exclusiva.



A Criada não repete Jean Genet nem Mulheres Diabólicas de Chabrol (inspirado no mesmo episódio real da peça de Genet), seguindo uma linha mais naturalista que escorrega (ou se quis intencionalmente) no patético. Com tal opção realista, de início pode soar pouco plausível a tolerância da patroa para com os desmandos da empregada que domina mais a casa do que a filha mais velha (e quase adulta) do casal. Mas se considerarmos a possibilidade de sutis (e intensos) mecanismos de dependência mútua entre dona-da-casa e uma fiel serviçal de vinte anos, vamos poder apreciar o desenvolvimento do roteiro e situações que seriam cômicas (o publico ri muito) sem deixar de ser sérias, até mesmo graves.



´Raquel´ é mal-humorada, antipática, arrogante e vive sentimentos de ameaça no sentido de perder - muito mais do que o emprego – o que parece viver como sendo o “seu lugar” (e função) no mundo. Ela está reduzida ao papel de criada daquela família - e qualquer outra ajudante contratada vai ser mal tratada por ela, ainda que já não dê conta de todo o serviço.



Seu temperamento e conduta são hostis como de uma criança insegura e ameaçada, apresentando reações primitivas e arcaicas. O desafio será enfrentar uma outra (terceira ou quarta) criada na mesma casa, ´Lucy´, que é mais esperta e bem situada, existencial e socialmente; além de ser bastante empática e capaz de acolher ´Raquel´ - em que pese esta ser tão espinhosa, arredia e belicosa. ´Lucy´ não entra no jogo de armadilhas. Vai funcionar? Vai haver vencedores e vencidos?



O filme, prêmio do Júri em Sundance e da crítica em Cartagena e (pela FIPRESCI) em Guadalajara, surpreende por sua acuidade psicológica no desenvolvimento do roteiro e no arco da personagem, defendida com admirável entrega pela (também premiada) atriz Catalina Saavedra.



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CORNUCÓPIA (El Cuerno de la Abundancia)



Direção: Juan Carlos Tabío



por Carlos Alberto Mattos em 24/09/2009



Parceiro de Tomás Gutiérrez Alea e um dos grandes diretores de comédias cubanas, Juan Carlos Tabío dá mostras de ter parado no tempo e perdido a mão nessa chanchada bem desgastada. Os boatos sobre uma fabulosa herança geram sonhos, precipitações e muitas confusões para um grupo de cidadãos de uma pequena cidade da ilha.



Como de praxe, as críticas light à pobreza, à burocracia e à censura em Cuba fazem a porção mais palatável do roteiro. Mas o filme se compromete demais com um humor caricato em torno de traições conjugais, cortejando velhos chavões da afetividade latina. As piadas metalinguísticas também soam mais antigas que as barbas de Fidel. O elenco é bom – sobretudo Jorge Perrugoría – e ainda melhor seria se não gritasse tanto, por vezes todos os atores ao mesmo tempo. Acho que Tabío exagerou no projeto de mostrar que seus conterrâneos, no fim das contas, convivem bem com suas carências de todo tipo.



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CHUVA (Lluvia)



Direção: Paula Hérnandez



Por Luiz Fernando Gallego em 22/09/2009



Chuva é uma tentativa do cinema argentino para aquele tipo de filme em que um homem e uma mulher se encontram por um acaso do destino (no caso, a chuva ajudou) e ficam dialogando o tempo todo, só que escondendo mais do que se revelando. Mas a curiosidade do espectador não se mantém, tal a previsibilidade de tudo.



O enredo é muito ralo e cheio de clichês; os atores não conseguem fazer milagre com personagens tão pouco interessantes. O filme se estica, se arrasta e não há guarda-chuva que proteja o espectador do tédio ao longo de 110 minutos de idas e vindas desinteressantes com tempo ruim.

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