Críticas


ACONTECEU EM WOODSTOCK

De: ANG LEE
Com: HENRY GOODMAN, IMELDA STAUNTON, EMILE HIRSCH, PAUL DANO
13.11.2009
Por Luiz Fernando Gallego
WOODSTOCK ENCARETOU

Texto revisto a partir da resenha publicada durante o Festival do Rio 2009



Sempre camaleônico, Ang Lee deixou para trás os vaqueiros homossexuais de Brokeback Mountain para filmar um melodrama chinês de espionagem e de época, Desejo, Perigo - ambos premiados em Veneza (2005 e 2007, respectivamente). Este Aconteceu em Woodstock não teve o mesmo destaque em Cannes este ano, mas pode agradar a boa parte do público que queira diversão e alguma nostalgia do tipo "Já temos um passado, meu amor... como dois quadradões". Pois o que se vê é uma comédia de situações com os tipos (clichês) esperados: hippies, gente que defende as tradições e tinha medo de hippies, jovens descolados e jovens caretas – tal como o personagem central aprisionado aos pais, especialmente à caricata mãe judia, interpretada inicialmente com humor por Imelda Staunton; mas o roteiro empurra a personagem para o exagero, chegando a lembrar cenas de antigas chanchadas... e a atriz naufraga junto.



Claro que o espírito da coisa é mostrar aqueles “3 dias de Música e Paz” como libertadores e um rapaz bom-moço carrega o evento (já rejeitado por outras duas localidades) para a região onde os pais administram (?) um motel falido. O resto é História, mas a historinha da "liberação" do moço reprimido, escolhida para retratar como o festival de rock acabou acontecendo, é um tanto convencional demais para resumir o espírito original do fenômeno que Woodstock simbolizou e/ou desenvolveu por algum tempo.



Também já é bem sabido que por trás daquela “espontaneidade” toda houve um empreendimento comercial tipicamente americano, oportuno e oportunista, o que o filme não esconde. Mas que parece ter dominado o roteiro menos afeito aos shows propriamente ditos (que nem são vistos), ainda que reproduza o clima geral do que foi “a nação Woodstock” dentro da “filosofia” (?) paz&amor. Perdemos aquela “ingenuidade” há muito tempo, mas não era preciso fazer do filme algo tão convencional como qualquer outro exemplar “libertário” (ou pseudo-libertário) de filmes conformistas americanos.



Na verdade, fica a impressão que Ang Lee se limitou a conduzir o roteiro como qualquer outro funcionário aplicado de Hollywood faria. Se o cineasta já surpreendeu até em adaptação de romance vitoriano (Razão e Sensibilidade), desta vez parece que lhe faltou a vivência da época para fazer o filme decolar - em que pese a reconstituição dos engarrafamentos monstruosos, das cenas de lama devido à chuva que quase estragou tudo e do anedótico da época, especialmente no que diz respeito a um grupo teatral “de vanguarda”, lembrando o que foi o “teatro de agressão” que também tivemos no Brasil nas experiências do Grupo Oficina, do Living Theater e outros daquele período. Uma piada involuntária para cinéfilos: o grupo do filme está apresentando uma versão “moderna” de “Três Irmãs”, de Tchekov. Qualquer semelhança com a peça escolhida para o grupo retratado em Moscou, de Eduardo Coutinho, foi mesmo mera coincidência.



# ACONTECEU EM WOODSTOCK (TAKING WOODSTOCK)

EUA, 2009

Direção: ANG LEE

Roteiro: JAMES SCHAMUS

Fotografia: ERIC GAUTIER

Edição: TIM SQUYRES

Direção de Arte: PETER ROGNESS

Figurinos: JOSEPH G. AULISI

Música: DANNY ELFMAN

Elenco: HENRY GOODMAN, IMELDA STAUNTON, EMILE HIRSCH, PAUL DANO, DEMETRI MARTIN

Duração: 110 minutos

Site oficial: http://www.takingwoodstockthemovie.com/

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