Críticas


CHICO XAVIER – O FILME

De: DANIEL FILHO
Com: NELSON XAVIER, ANGELO ANTÔNIO, TONY RAMOS, CHRISTIANE TORLONI
10.04.2010
Por Daniel Schenker
CINEMA DE CÁLCULO QUE NÃO AGRIDE

Depois de investir no ramo da comédia escorada em quiproquós decorrentes de troca de identidade sexual, Daniel Filho mira num alvo certeiro em sua cruzada rumo ao sucesso: a vertente espírita. Nada mais adequado do que trazer à tona a trajetória do médium Chico Xavier. O resultado apresentado, em que pesem os problemas de estrutura e roteiro (de Marcos Bernstein, a partir do livro de Marcel Souto Maior), tem algum mérito, em especial pelo fato de o diretor evitar uma abordagem sensacionalista a partir de um campo temático notadamente popular. Chico Xavier é, em certos momentos, um filme em tom menor, distante da grandiloquência de produções como Olga .



Daniel Filho adota como espinha dorsal a entrevista concedida pelo médium ao programa Pinga-Fogo , da TV Tupi, no início dos anos 70. A partir daí, evoca, passo a passo, a jornada do personagem-título (interpretado por Nelson Xavier, Angelo Antonio e Matheus Costa), desde a infância solitária, na qual se refugiava no convívio com a mãe já falecida, até a conhecida prática da mediunidade. O diretor optou por uma estrutura correta, linear, sem inovações. Valeu-se de recursos um tanto previsíveis, como a inserção dos flashbacks logo após cada registro em close da imagem de Chico Xavier no Pinga-Fogo .



À medida que a projeção avança, Daniel Filho entrelaça o passo a passo da vida do retratado com a história de um casal (interpretado por Tony Ramos, como o diretor do programa da Tupi, e Christiane Torloni) que perdeu um filho. Por mais que estes personagens estejam diretamente relacionados a Chico Xavier, é como se o cineasta abrisse uma espécie de parênteses ou adendo dentro do filme para destacar uma perda que, apesar de trágica, é destituída de excepcionalidade (a não ser pela importância do médium no desdobramento do julgamento do assassino do filho do casal, ao final do filme). As situações apresentadas soam um tanto esquemáticas, em especial o contraste entre ceticismo e fé, representado, respectivamente, pelo personagem de Tony Ramos (que se esforça para conferir credibilidade à transição emocional do diretor da Tupi) e pelo Chico Xavier na fase da terceira idade, personificado por Nelson Xavier, e o súbito envolvimento emocional do técnico descolado (Cadu Fávero) com o relato de Chico Xavier diante das câmeras.



O rendimento dos atores encarregados de compor Chico Xavier é um ponto alto. Angelo Antonio aciona a generosidade do protagonista, valorizado por apropriada dose de energia juvenil. Em pequena participação, Ana Rosa é a integrante do elenco mais próxima do universo abordado (sua adesão ao espetáculo Violetas na Janela evidencia, possivelmente, a conexão com o espiritismo). Encarregado de fazer Emmanuel, o espírito que acompanha Chico Xavier, André Dias sofre com o tratamento inadequado destinado ao personagem. A cena do avião, mesmo ligada a uma narração de Xavier (conforme aparece nos créditos finais), é bastante dispensável. Deixa a impressão de ter sido incluída tão-somente para oferecer refresco cômico ao espectador.



Se por um lado Daniel Filho investe num cinema de cálculo, a julgar pela escolha de gêneros e temas, por outro não adere, pelo menos em Chico Xavier a um tratamento sensacionalista.



# CHICO XAVIER – O FILME

Brasil, 2010

Direção: DANIEL FILHO

Roteiro: MARCOS BERNSTEIN (baseado no livro de MARCEL SOUTO MAIOR)

Fotografia: NONATO ESTRELA

Edição: DIANA VASCONCELLOS

Direção de Arte: CLÁUDIO AMARAL PEIXOTO

Música: EGBERTO GISMONTI

Elenco: NELSON XAVIER, ANGELO ANTÔNIO, TONY RAMOS, CHRISTIANE TORLONI, MATHEUS COSTA

Duração: 125 minutos

Site Oficial: http://www.chicoxavierofilme.com.br

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