Críticas


ROBIN HOOD

De: RIDLEY SCOTT
Com: RUSSELL CROWE, CATE BLANCHETT, MAX VON SYDOW, WILLIAM HURT.
17.05.2010
Por Leonardo Luiz Ferreira
<i>ERA UMA VEZ... </i>

Lá pela terceira vez que aparece na tela o letreiro de Nottingham sobre a imagem em plano geral do vilarejo constata-se que o costumeiro perfeccionismo de Ridley Scott deu lugar à preguiça e ao didatismo. O realizador se transformou em uma sombra de suas obsessões e obras de culto, como Blade Runner – O Caçador de Andróides (1982) e Alien – O Oitavo Passageiro (1979), em que aliava o mais puro artesanato cinematográfico – em pleno domínio da linguagem de cinema de gênero – à autoria com uma visão trágica de mundo. Aos poucos, a sua filmografia foi perdendo interesse em projetos pequenos (Tormenta, 1996); de discurso militarista vazio (Até o Limite da Honra, 1997); e impregnada de um esteticismo inócuo em que a direção de câmera, a montagem moderna e a fotografia maneirosa tornam cada vez mais evidente a fragilidade dramatúrgica do diretor. Em tempo de baixa bilheteria e críticas severas ao seu trabalho, Scott tenta com Robin Hood (2010) resgatar o êxito de Gladiador (2000) e se escora na plataforma do herói, e sua estrutura formulaica, para alcançar o seu objetivo.



A proposta do roteiro de Brian Helgeland não é a de reverenciar as versões cinematográficas anteriores, porém em apresentar uma narrativa distinta, que poderia ser compreendida como uma espécie de prequel dos filmes que retrataram ultimamente o fora-da-lei, entre eles Robin Hood – O Príncipe dos Ladrões (1991), de Kevin Reynolds. Ou em como se construir a lenda, que fica explicitada no último letreiro do longa. Apesar de investir em um ponto de vista único em sua abordagem, não há como fugir do esquematismo que tal tipo de aventura está atrelado. Portanto, Russell Crowe encarna da mesma forma canhestra de Kevin Costner o arqueiro romântico e irônico. E Scott permanece ali muito mais preocupado em que lente utilizar nas cenas de batalha para agregar realismo ao plano do que em contar uma história. É o nome equivocado para criar empatia dos personagens com o espectador e entreter.



Até a narrativa se estabelecer, há um grande número de cenas desnecessárias de composição que tentam gerar um conflito entre países, e do governo com relação ao povo inglês. O roteirista Helgeland está longe de ser Shakeaspeare; e toda a construção de intriga e traição soa apenas superficial. Reforça-se a isso a irregularidade de um extenso elenco, que nunca recebe o tempo adequado em cena, como Max Von Sydow interpretando um cego, ou que não deveria estar no projeto, caso de Oscar Isaac e sua total falta de talento para o papel de príncipe John.



À parte a questão das interpretações, Robin Hood traz uma decupagem problemática – um mal que assola um grande número de produções – que prejudica bastante as sequências de ação. Estas soam confusas e dispersas onde a câmera parece estar sempre posicionada no lugar errado ou, ao menos, as decisões de que plano escolher são equivocadas por parte de Ridley Scott. É um mero encontro entre corpos, como já o fez em Cruzada (2005), em que o realizador parece querer que as cenas terminem da maneira mais rápida possível. E essa vontade contagia o espectador. Somente no último confronto, Scott vai permitir um pouco mais o exagero e o lúdico ao encenar a batalha entre os farrapos ingleses contra os poderosos franceses. É quando o diretor britânico sai do calculado e abraça o inverossímil e popular que ele mais se aproxima do entretenimento. Ou seja, a lenda se inicia, só que o filme acaba.



# ROBIN HOOD

Estados Unidos, Inglaterra, 2010.

Direção: RIDLEY SCOTT

Roteiro: BRIAN HELGELAND

Fotografia: JOHN MATHIESON

Montagem: PIETRO SCALIA

Produção: BRIAN GRAZER, RIDLEY SCOTT E RUSSELL CROWE

Trilha Sonora: MARC STREITENFELD

Elenco: RUSSELL CROWE, CATE BLANCHETT, MAX VON SYDOW, WILLIAM HURT E DANNY HUSTON.

Duração: 140 minutos

Site Oficial: http://www.robinhoodthemovie.com/











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