Críticas


FÚRIA DE TITÃS

De: LOUIS LETERRIER
Com: SAM WORTHINGTON, LIAM NEESON, RALPH FIENNES, GEMMA ARTENTON
24.05.2010
Por Leonardo Luiz Ferreira
UMA NOVA ERA

A refilmagem do cultuado Fúria de Titãs (1981), de Desmond Davis, pode, de certa forma, ser considerada um marco dentro do cinema contemporâneo: não por suas qualidades artísticas, mas porque representa a primeira jogada de marketing de uma major, no caso a Warner Bros., para lucrar em cima da plataforma 3D, que se transformou em verdadeiro fenômeno de interesse por parte de público com o êxito de Avatar (2009), de James Cameron. Porque originalmente a produção dirigida por Louis Leterrier foi pensada e filmada em 2D. Só que devido a demanda por novas produções em três dimensões em um curto prazo de tempo, a distribuidora simplesmente fez o transfer para 3D e feriu dessa maneira qualquer projeto estético que o cineasta poderia almejar, pois a sensação é a de se assistir a um longa que em, praticamente, nenhum momento se explora a profundidade de campo e nem estabelece uma relação de imersão no ambiente para o espectador – talvez por essa razão todas as peças publicitárias do filme alardeiam tanto para a versão em 2D. O faturamento foi elevado, porém como cinema é mais um passo atrás e uma constatação de que tudo pode ser impingido e direcionado para um público cada vez menos preocupado com qualidade e ávido apenas por novidades.



No século XXI, para se realizar uma releitura há que se pautar pela modernização. Não no sentido de que um filme de época, como a mitologia grega em Fúria de Titãs, tenha que receber uma estética futurista em que o anacronismo se faria evidente na tela ou exigiria uma reformulação completa do roteiro. Entretanto, a relação temporal é modificada: os blockbusters, em sua maioria, estão cada vez mais rápidos. Eles não se detêm à história e nem mesmo aos personagens. Dessa forma, pretendem tomar grosseiramente a atenção de sua audiência com edição de som estridente e cenas de ação em que o fundo verde dita as regras de encenação: os personagens são secundários e os efeitos especiais é que coordenam o posicionamento das câmeras. Por intermédio da tecnologia atual, um filme é inteiramente gerado na pós-produção. Como dirigir sequências tendo somente um ideia da disposição dos elementos no quadro? A solução tem sido a montagem artificial que se estrutura a partir de pequenos fragmentos onde cada movimento não é sentido, mas sim percebido pelo espectador como um susto. Antes de tudo, o cinema é a composição de imagens e produções como Fúria de Titãs não se preocupam nem um pouco em arquitetá-las minimamente para narrar uma história elementar da jornada de um herói. É, sobretudo, nesse ponto que as duas produções de gerações distintas, e separadas por praticamente 30 anos, se distanciam de maneira brutal. E soa cada vez mais assustador a mecanização dos filmes que para entreter se afastam do elemento essencial, o humano.



Fúria de Titãs se articula desde o princípio, em um prólogo para situar superficialmente o espectador, como um filme que não se escora nas aventuras clássicas - como na seminal primeira trilogia de Guerra nas Estrelas (1977-83), de George Lucas -, mas em jogos de videogames, que hoje já ultrapassam o faturamento de diversas produções hollywoodianas. Então para se atualizar, os diretores, produtores e roteiristas observam o fenômeno e tentam ao máximo adequarem os seus produtos cinematográficos a essa nova realidade. O filme de Leterrier abandona qualquer interesse por seus personagens e descreve didaticamente as missões em que o herói deve cumprir: sempre entre as sequências há explicações do que deve ser feito a seguir; uma premiação por conquistas; e um aumento de força e inteligência de Perseu, o predestinado filho bastardo de Zeus. A jornada não é mais interior e enriquecida por diálogos sobre amizade e honra, mas uma demonstração destituída de vida em que o “boneco” se move de um lado ao outro para sair vencedor no menor tempo possível.



Fúria de Titãs é forjado com defeitos técnicos, o mais evidente é a Medusa retocada à exaustão, em que a máquina derruba o homem, e evidencia o reflexo de uma sociedade decadentista cada vez mais distante da arte e do puro entretenimento. E no cinema, há um porta-voz dessa nova Era: Michael Bay, de Transformers (2007-2011).



# FÚRIA DE TITÃS (Clash of the Titans)

EUA, Inglaterra, 2010.

Direção: LOUIS LETERRIER

Roteiro: TRAVIS BEACHAM, PHIL HAY E MATT MANFREDI

Fotografia: PETER MENZIES JR.

Montagem: MARTIN WALSH E VINCENT TABAILLON

Produção: BASIL IWANYK E KEVIN DE LA NOY

Trilha Sonora: RAMIN DJAWADI

Elenco: SAM WORTHINGTON, LIAM NEESON, RALPH FIENNES, GEMMA ARTENTON E JASON FLEMYNG.

Duração: 106 minutos

Site Oficial: http://wwws.br.warnerbros.com/clashofthetitans/

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário