Críticas


PÂNICO NA NEVE

De: ADAM GREEN
Com: EMMA BELL, KEVIN ZEGERS, SHAWN ASHMORE
31.05.2010
Por Leonardo Luiz Ferreira
E QUE RUFEM OS VIOLINOS...

Desde sua passagem pelo Festival de Sundance, o filme Pânico na Neve foi comparado diretamente a Mar Aberto (2003), de Chris Kentis, em que um casal fica refém de tubarões após serem esquecidos pelos organizadores de um passeio turístico de barco. A superficialidade nesse ponto está em procurar um rótulo para que o espectador tenha alguma referência prévia ao assistir a obra. Porém, enquanto Kentis estruturou sua película na câmera digital e na busca pelo realismo documental, em uma filiação a A Bruxa de Blair (1999), de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez, o diretor Adam Green trabalha em cima da cartilha do cinema de gênero e encontra inspiração na manipulação da tensão de Alfred Hitchcock, em que a tragédia se anuncia e não há como evitá-la, e na violência gráfica de um inventário do cinema de horror, desde Eli Roth (O Albergue) passando pelo cultuado Sepultado Vivo (1990), de Frank Darabont. Mas é na opção dramatúrgica de investir em inúmeros diálogos - como se fosse uma versão thriller do drama Vivos (1993), sobre os sobreviventes de um acidente aéreo nos Andes que têm de comer os mortos para viver - que ressaltem animosidade, existencialismo e sobrevivência que Green destitui seu projeto de real interesse.



Pânico na Neve se apresenta como um filme B voltado para entreter adolescentes: rápidos planos de paisagem emoldurados por uma trilha sonora moderna em um ambiente de colônia de férias, no qual tudo é permitido para se divertir. Green foca em três personagens, um casal e um amigo, e não consegue se ater a nada além desse fio narrativo. Uma atmosfera de tensão entre eles é sugerida da maneira mais banal e inepta possível: diálogos construídos às pressas de rusgas anteriores e transmitidos por atores que não empregam nenhum senso de inteligência ao material. O cineasta parece adiantar o quanto antes essa parte da ação para chegar até o momento que dá sentido de existência ao longa.



A direção de Green alterna um formato arcaico para produtos de gênero: corte seguido de cena e trilha. O progresso é todo demarcado nos chamados plot points (viradas de trama) para chegar de fato a situação-chave de se estar preso e sem saída. Dessa forma, se reforça a questão de estatística que apenas 1 dos teleféricos já caiu; o conceito moral de que os três se dão bem porque pagaram muito menos para esquiarem na montanha; e um pretexto simplório para esquiarem uma última vez em condições climáticas de risco. Não há nada de mais em arquitetar seu filme em clichês, que aliás formam a razão de existir dos gêneros de horror e suspense, entretanto Adam vai prejudicar o resultado de seu trabalho exatamente por buscar enveredar seu Pânico na Neve em uma aura cult com pretensões autorais vazias. Todas as peripécias da câmera, que se move em inúmeras direções, mas nunca consegue realmente dar uma noção de espaço, aliadas as interpretações ruins só pioram uma trama refém de suas próprias limitações.



A montagem não consegue criar fluência e tensão; o tempo caminha lento na maior parte da duração em um falso movimento para criar clima, como o fazem os especialistas no gênero. E em um determinado instante, a narrativa é tomada por inúmeras ações para piorarem as condições dos personagens. A trilha sonora interfere negativamente na emoção das cenas para dar um caráter de epopeia pessoal ao material, que já está implícito no cerne do drama. Não existe nada de mais equivocado do que se utilizar de violino para aumentar o caráter dramático. O exemplo que Green poderia ter seguido é o único instante de cinema que proporciona em sua película ao filmar os rostos em desespero de dois personagens frente à tragédia que acontece logo abaixo dos pés. O horror não é o que se filma, mas o que se sugere.



# PÂNICO NA NEVE (Frozen)

EUA, 2010.

Direção e roteiro: ADAM GREEN

Fotografia: WILL BARRATT

Montagem: ED MARX

Produção: PETER BLOCK E CORY NEAL

Trilha sonora: ANDY GARFIELD

Elenco:EMMA BELL, KEVIN ZEGERS, SHAWN ASHMORE, ED ACKERMAN E KANE HODDER

Duração: 94 minutos

Site Oficial: http://www.frozen-film.com/

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