Críticas


FESTIVAL DO RIO 2010 – MOSTRA FILM DOC

05.10.2010
Por Críticos.com.br
FESTIVAL DO RIO 2010 - MOSTRA FILM DOC

MILOS FORMAN: O QUE NÃO MATA... (Milo Forman: Co t nezabije…), de Miloslav Smidmajer.



República Tcheca / Alemanha/ França, 2009. 100min.



por Luiz Fernando Gallego



Muitas vezes o tema de um documentário importa mais do que sua realização, e para os fãs dos filmes do cineasta tcheco Milos Forman (sendo os mais famosos Um Estranho no Ninho e Amadeus), esta produção pode ser bastante interessante.



O formato é o mesmo de muitos outros que retratam artistas vivos: acompanha-se o biografado em um evento atual (no caso, a direção de uma ópera em seu país natal) e cenas deste empreendimento são editadas em alternância com trechos de entrevistas sobre sua vida, seus filmes e clipes dos mesmos, além de depoimentos (sempre elogiosos) de atores e produtores que trabalaharam com ele. Os elogios podem ser meritórios, no caso.



Neste Festival do Rio 2010 outro diretor da Europa Central, Roman Polanski, foi lembrado em dois docs e uma exposição, sendo sua infância durante o nazismo sempre comentada. Forman perdeu não só a mãe, mas também seu pai durante a invasão nazista – sendo que detalhes mesquinhos e perversos destas perdas são comentadas por ele. Por exemplo, sua mãe teve, desde o início, anotada em sua ficha de prisioneira que não deveria sair viva, o que se deu por vingança mesquinha de um ex-pedreiro alemão que trabalhara no hotel que os pais do futuro cineasta tinham, mas ela teve estranho direito a 1 (uma única) visita, tendo sido levada até seu filho, o que faz com que Forman comente a incrível “organização” alemã durante o horror cuidadosamente planejado e executado. É comovente escutar dele que nos 15 minutos em que esteve com ela pela última vez, tenham conversado sobre coisas banais do dia-a-dia - como estavam indo as florações ou aspectos semelhantes da vida dita “normal”. Ele mesmo talvez só tenha escapado de ter sido levado porque estava doente no dia em que sua mãe foi levada: ela subiu até o quarto onde o menino estava febril, deu-lhe um remédio e sussurrou: “a Gestapo”. Quando se deu conta, o garoto estava sozinho no mundo, pois o pai já havia sido “convocado” pela Gestapo anteriormente.



Forman sobrevive ao nazismo, a família recupera a construção onde funcionara o hotel do qual os nazistas haviam se apropriado e deixaram depredado; mas logo os comunistas tomariam o prédio de novo - e isto durou décadas.



Além de aspectos da vida pessoal com visitas aos lugares mencionados e fotos antigas, as entrevistas sobre os filmes são bem interessantes, sendo lembradas suas primeiras realizações na ex-Tchecoeslovaquia e os problemas que O Baile dos Bombeiros, filmado em 1967, sofreu: censura soviética interditando o filme, problemas legais com o produtor Carlo Ponti que quis seu dinheiro investido de volta depois da proibição, compra dos direitos por franceses - como François Truffaut - que pagariam a Ponti, evitando que Forman fosse culpabilizado pelo governo por conta da dívida assumida pelo país com o produtor... e surpreendente não-exibição do filme no Festival de Cannes de 1968 quando seus amigos Godard, Chabrol e Truffaut, que já reconheciam seu talento e compraram seu filme, impediram a continuação do festival por uma reação identificada com um pensamento “de esquerda” na época. É mencionado que tanto Forman, que vinha de um país sob dominação comunista, como Carlos Saura, que vinha de um país sob ditadura fascista, ficaram perplexos com o que viam.



O humor não está ausente dos comentários dele, de Jean-Claude Carrière (seu roteirista em Valmont e Procura Insaciável) e outros entrevistados, e o cineasta aponta suas motivações ao retratar tanto a enfermeira prepotente de Um Estranho no Ninho (“ela era como o Partido Comunista”, diz ele) quanto a Inquisição que faz parte de Sombras de Goya e que também se referia às vivências de Forman sob regimes totalitários.



É lembrado seu primeiro filme americano, Taking Off (Procura insaciável, de 1971), tão difícil de ser visto ou revisto hoje em dia, e que foi um fracasso de bilheteria, certamente por se assemelhar às “comédias” um tanto amargas como eram seus filmes tchecos (Amores de uma Loura e “Baile dos Bombeiros). Com Estranho no Ninho ele começaria a se adaptar ao formato do cinema americano, sempre com suas motivações pessoais mais ou menos explícitas, pagando o preço de se afastar da família que deixou no país de origem. Seus filhos (gêmeos) já adultos são vistos na atualidade, nem sempre parecendo à vontade com o pai que tem nova família (com mais dois filhos, ainda crianças). Embora estejam os filhos mais velhos trabalhando juntos com Forman na encenação da ópera cujos ensaios são vistos como fio condutor do filme na atualidade (em 2009)



Também é comovente o relato do encontro de Forman com Truffaut poucos dias antes da morte deste, quando novamente falar da vida "comum" (no caso de Truffaut, falar de filmes) era um tema procurado por aqueles que vão morrer, tal como foi na última conversa com sua mãe.



Como está dito na sinopse deste documentário, são bem ressaltadas as motivações de Forman para muitos de seus filmes. Cabe lembrar uma frase do diretor (que não está no doc) sobre ter filmado O Povo Contra Larry Flint, não para defender a pornografia, mas pela questão da liberdade de expressão: Tanto os nazistas como os comunistas, ao chegarem na Czechoslovakia, disseram declarar guerra aos pornógrafos e pervertidos e todo mundo aplaudiu: quem que pervertidos soltos pelas ruas? Mas de repente Jesus Cristo era um pervertido, Shakespeare era um pervertido, Hemingway era um pervertido... Sempre começa com os pornógrafos, mas para abrir caminho a todo tipo de perseguição



Film Doc - (LEP) - 10 anos



SEG (4/10) 13:20 Est Barra Point 1 [BP151]



TER (5/10) 18:00 Oi Futuro em Ipanema [FT049]



QUA (6/10) 15:30 Estação Botafogo 3 [EB374]



QUA (6/10) 19:30 Estação Botafogo 3 [EB376]



QUI (7/10) 20:00 Cine Glória [GL056]



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Polanski: Procurado e Desejado



de Marina Zenovich. EUA, 2008. 100 min.



Por Daniel Schenker Wajnberg



Em 1977, Roman Polanski foi acusado de manter relações sexuais com uma adolescente de 13 anos. Mais de 30 anos depois, o escândalo voltou à tona. A diretora Marina Zenovich utiliza os desdobramentos do caso como espinha dorsal de seu documentário, Polanski: Procurado e Desejado . Mas o gancho não dá conta de fornecer uma análise da trajetória do cineasta. A decisão de centrar o filme nessa polêmica soa algo oportunista. Até porque, se era para eleger fatos determinantes, a morte da mãe na câmara de gás, no Holocausto, e o assassinato de sua mulher grávida, Sharon Tate, certamente informam mais sobre o enigma Polanski.



Zenovich entrevista policiais, advogados, jornalistas e produtores. Levanta determinadas teses – a imprensa teria encontrado no caso Sharon Tate uma oportunidade para destronar Polanski. Traz à tona observações comportamentais interessantes, ainda na esteira da morte de Tate: “até o final dos anos 60, ninguém trancava as portas. Mas o sonho acabou”, dizem. O espectador mais exigente pode se ressentir da falta de menção (ou da rápida citação) a filmes importantes de Polanski e de certa insistência na evocação da trilha sonora de O Bebê de Rosemary .



Filme Doc



TER (5/10) 16h e 22h30 – Estação Vivo Gávea 1 (GV157) (GV160)



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FRAGMENTOS DE CONVERSAS COM GODARD (Morceaux de conversations avec Jean-Luc Godard)



de Alain Fleischer. França, 2007. 125min



por CARLOS ALBERTO MATTOS



O título do filme é sua perfeita sinopse e reivindicação de identidade. Sem pretensão narrativa nem de formar um perfil, Alain Fleischer simplesmente se coloca entre Jean-Luc Godard e alguns interlocutores da época em que ele preparava sua polêmica exposição Voyage(s) en Utopie, à la Recherche d’un Théoreme Perdu (Centro Georges Pompidou, 2006) e o filme-ensaio Vrai Faux Passeport.



Alain Fleischer parece partir da premissa de que Godard é interessante de ouvir o tempo todo. Assim como nos filmes, nas conversas JLG surfa no eterno jogo das referências culturais, da crítica acerba e das afirmações peremptórias. “Quanto menos eu sei, mais eu quero falar”, despista. Mesmo quando retoma temas batidos como as diferenças entre ficção (Israel) e documentário (Palestina), ele é capaz de ainda sair-se com uma frase ressonante como “A verdade é tão apreciada que mesmo os mentirosos gostariam que fosse verdade o que dizem”.



As conversas, incensadas por muitos charutos, envolvem os cineastas Jean-Marie Straub e Andre S. Labarthe, o historiador Jean Narboni, o teórico e curador Dominique Païni e um grupo de jovens artistas visuais que ouvem o velho ranzinza descascar suas instalações: “Dispositivos sempre existiram. Vocês estão fugindo do real”. Godard põe em xeque sua perene contemporaneidade ao mostrar-se um pouco mais conservador do que pensamos que é. Aqui é onde esse registro de conversas alcança maior profundidade.



Vemos Jean-Luc às voltas com DVDs que não rodam e mostrando sua videoteca caseira apinhada de velhos VHS. Divertimo-nos com o flâneur de ideias que sempre encontra uma forma de elogiar a Nouvelle Vague, implicar com Chantal Akerman e Martin Scorsese, e filosofar para a plateia como se estivesse nos anos 1960: “Um casal pode discordar de tudo e ainda ser feliz, mas se não gostarem dos mesmos filmes, acabam se divorciando”. E assim prosseguem as Histoires du Cinéma.



Film Doc - (LEP) - 10 anos



SEX (24/9) 17:45 Espaço de Cinema 3 [EC304]



SAB (2/10) 13:10 Est Barra Point 1 [BP141]



DOM (3/10) 16:30 Oi Futuro em Ipanema [FT042]



SEG (4/10) 19:00 Estação Botafogo 3 [EB364]



16:10 Instituto Moreira Salles []

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