Críticas


TROPA DE ELITE 2 – O INIMIGO AGORA É OUTRO

De: JOSÉ PADILHA
Com: WAGNER MOURA, IRANDHIR SANTOS, SANDRO ROCHA
27.10.2010
Por Marcelo Janot
A REFLEXÃO É A SOLUÇÃO

No Tropa de Elite de 2007, o diretor José Padilha preferiu focar no embate entre o heróico Capitão Nascimento e seu pupilo Matias contra as forças do mal da banda podre da PM e da bandidagem, lamentavelmente oferecendo evidentes indícios de resolução do conflito pela lógica fascista. Embora desde sempre Padilha tenha negado qualquer intenção de transformar o Capitão Nascimento de Tropa de Elite 1 em herói, o fato é que a ideologia do personagem foi perigosamente adotada por boa parte dos espectadores do filme como a única solução para “limpar” o Rio de Janeiro do crime organizado.



Tropa de Elite 2 representa um alívio para todos aqueles que reagiram com preocupação à mensagem transmitida pelo primeiro filme. O Capitão Nascimento, agora Tenente-Coronel, mudou sua postura, passou a admitir rever certos conceitos, o que mostra que Padilha pode ter absorvido as críticas, mesmo sem parecer te-las digerido bem. Em determinado momento do novo filme ele homenageia explicitamente o diretor Costa-Gavras (presidente do júri em Berlim que deu o Urso de Ouro a Tropa), colocando personagens diante de um cinema que exibe uma retrospectiva de seus filmes, como se quisesse lembrar a todos da grande láurea recebida das mãos de um diretor de filmes de cunho humanitário, numa resposta ao bombardeio crítico. Em outro, ele não perde a oportunidade de voltar a dar uma sacaneada nos “intelectuais de esquerda” e “nessa turma dos direitos humanos”, especialmente pela forma debochada como Nascimento se refere a eles nas narrações ao longo do filme, sempre provocando gargalhadas e buscando a adesão da platéia. Com isso, ele só reforça a equivocada visão que a população, especialmente a menos esclarecida, ainda tem dos defensores dos direitos humanos.



Vale lembrar que, embora ao longo do filme Nascimento vá refletindo e mudando de idéia em relação ao deputado Fraga, isso nunca chega a ser verbalizado com o mesmo peso das críticas, e que Fraga indiretamente acaba sendo o responsável pela prisão de seu enteado com maconha e pela morte dos jornalistas.



Tirando essas ressalvas, há de se destacar os inúmeros avanços em relação ao primeiro filme. No campo temático/ideológico, a opção por, finalmente, colocar a política no cerne da questão que envolve a violência urbana – algo que já fazia parte de Elite da Tropa, o livro que inspirou o primeiro Tropa. Se no Tropa 1 a narrativa era construída de forma a entorpecer o espectador no sentido de não lhe dar brecha para reflexão, mas sim para comprar a tese do Capitão Nascimento, aqui a platéia é convidada a refletir com ele. Basta lembrar que o primeiro filme terminava de forma catártica, com o tiro estourando os miolos do bandido e a agressiva música-tema louvando o BOPE entrando em seguida, fazendo a platéia sair do cinema sedenta de sangue. Dessa vez, após a imagem aérea do Congresso Nacional, entra a música O Calibre, dos Paralamas do Sucesso, mais lenta e analítica.



Isso não significa que Tropa de Elite 2 esteja mais para um thriller político a la Costa-Gavras do que para um filme de ação. Na verdade, dessa vez o roteiro consegue atingir o equilíbrio quase perfeito entre os bastidores da violência e a sua execução. Se é para citar uma referência estrangeira, está mais para os filmes de máfia de Scorsese do que para o cinema de Costa-Gavras. Não é à tôa que a cena de abertura, com Nascimento saindo do hospital e tendo seu carro metralhado, soa quase como uma citação explícita ao prólogo de Cassino, em que o carro de Robert De Niro explode.



Tecnicamente, o filme não deixa nada a dever aos melhores momentos do thriller policial americano, nas envolventes cenas de ação e sobretudo no magnífico desempenho do elenco, com destaque para Wagner Moura e o vilão-revelação interpretado por Sandro Rocha, o major Rocha. A grande diferença é que com a ação se passando no Rio de Janeiro de agora, e não na distante realidade da ficção, a capacidade de envolvimento e indignação do espectador é muito maior. E dessa vez é canalizada para o Bem, mostrando que não vai ser torturando e exterminando bandidos que a violência urbana vai chegar ao fim. Só é uma pena que o filme não tenha sido lançado antes das eleições para deputado federal e estadual, para que o eleitor tivesse a chance de refletir sobre a necessidade de uma “limpeza ética” no Congresso Nacional e na Assembléia Legislativa. Que venha o Tropa de Elite 3!



# TROPA DE ELITE 2 – O INIMIGO AGORA É OUTRO

Brasil, 2010

Direção: JOSÉ PADILHA

Roteiro: JOSÉ PADILHA, BRÁULIO MONTOVANI

Produção: JOSÉ PADILHA, MARCOS PRADO

Direção de Fotografia: LULA CARVALHO

Direção de Arte: TIAGO MARQUES TEIXEIRA

Figurinos: CLAUDIA KOPKE

Montagem: DANIEL REZENDE

Trilha Sonora: PEDRO BROMFMAN

Elenco: WAGNER MOURA, IRANDHIR SANTOS, ANDRÉ RAMIRO

Duração: 116 minutos

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