Praticamente um filme dirigido por ano. Essa é a média excepcional que Woody Allen vem mantendo desde 1966, quando estreou com O que há, Tigresa?. Portanto, como exigir que, ao completar 75 anos, ele se reinvente ou produza seguidas obras-primas? A maior crítica que se faz a Allen é a de que na última década ele ligou o piloto automático e passou a escrever e dirigir preguiçosamente, para dar vazão à produção em escala industrial.
Em parte, seus detratores tem razão. É fato que desde Desconstruindo Harry, de 1997, nenhum de seus filmes ganhou aplausos unânimes e entusiasmados, à altura de suas produções das décadas de 70 e 80. Mas, mesmo aqueles considerados mais fracos, como Igual a Tudo na Vida e O Sonho de Cassandra, possuem qualidades que os colocam acima da média das comédias produzidas no cinema contemporâneo. Ou seja, é tudo uma questão de perspectiva.
Do ponto de vista dos entusiastas da obra de Allen, Você vai conhecer o homem dos seus sonhos, não decepciona, muito pelo contrário. O envelhecimento não lhe tirou o vigor criativo, presente nas precisas observações do universo que sempre retratou tão bem, o da classe média alta e suas idiossincrasias. Aqui, entre a gama de tipos em crise existencial, temos uma senhora (Gemma Jones) que encontra conforto espiritual em uma vidente charlatã; o ex-marido (Anthony Hopkins) que se envolve com uma garota de programa; a filha (Naomi Watts) culpada por se sentir atraída pelo chefe; e o genro (Josh Brolin), escritor frustrado que usa de artifícios inescrupulosos para recuperar sua auto-estima.
A ambientação londrina não se impõe como um fator determinante. Tais tipos são encontráveis em Manhattan, Paris ou Leblon. Woody Allen é dos poucos a saber retratá-los com tanta ironia e inteligência, situando-os no universo pragmático e individualista da sociedade contemporânea, sem esbarrar na caricatura. Cada diálogo tem o efeito de um tiro certeiro. E Você vai conhecer... ainda tem um bônus em relação aos filmes mais recentes de Allen: uma trama de mistério com desfecho surpreendente.