Críticas


127 HORAS

De: DANNY BOYLE
Com: JAMES FRANCO, TREAT WILLIAMS, KATE MARA
01.03.2011
Por Marcelo Janot
DE CÚMPLICE A VOYEUR

Ao sobreviver às 127 horas de agonia preso numa montanha, Aron Relston cumpriu o ritual das celebridades instantâneas: participou de talk shows, escreveu um best seller e hoje cobra 25 mil dólares por palestra motivacional. O ciclo se fecha com um filme hollywoodiano que fracassou nas bilheterias, mas conseguiu uma inacreditável indicação ao Oscar de Melhor Filme.



Quem nunca ouviu falar no rapaz é alertado, nos créditos iniciais, para o fato de que o filme é baseado na biografia de Ralston. A história é real, mas os recursos utilizados por Danny Boyle para mostrá-la fazem de tudo para lembrar ao espectador que o diretor quer aparecer tanto quanto o personagem. Pegue como exemplo uma das cenas em que Aron, preso na montanha, grava um depoimento para sua câmera portátil. De início o personagem é mostrado pelo ponto de vista do visor da câmera, que está apoiada na pedra, mas logo Boyle irá enquadrá-lo sob diversos ângulos em cortes sucessivos, o que reforça a impressão de que a “solidão” de Aron é compartilhada com uma equipe de filmagem – o que, num filme de proposta realista, é fatal para suas intenções. Assim, o espectador passa de cúmplice a voyeur do drama.



Para driblar as limitações de um filme sobre um homem isolado e imobilizado, Boyle transforma 127 Horas em uma colagem de videoclipes com estética publicitária. Na abertura, traz a combinação de música eletrônica com imagens de multidões em ritmo frenético, onde deduz-se que ele quis, de forma primária, contrastá-las com a solidão de Aron. Mais tarde, outro videoclipe coloca em oposição a música suave de Bill Whiters com o desespero de Aron, que sonha com um Gatorade – com direito a close na garrafa suada.



O merchandising constrange, mas não tanto quanto as sequências delirantes, especialmente as lembranças da ex-namorada e da família. É tudo tão artificial que mal se distingue a sua pieguice. E para quem lembra da obsessão do diretor por coliformes fecais em Trainspotting (quando Ewan McGregor mergulha na privada) e em Quem Quer Ser Um Milionário? (o menininho chafurdando no cocô), aqui é a urina que ganha aspecto de guaraná champagne. Nojo? Nos filmes de Boyle, só se for do cinismo desse ex-bom diretor que se transformou num grande picareta.



# 127 HORAS (127 Hours)

EUA, 2010

Direção: DANNY BOYLE

Roteiro: DANNY BOYLE E SIMON BEAUFOY

Fotografia: ENRIQUE CHEDIAK e ANTHONY DOD MANTLE

Edição: JON HARRIS

Música: A.R.RAHMAN

Elenco: JAMES FRANCO, TREAT WILLIAMS, KATE MARA

Duração: 94 min.

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