Críticas


VIPs

De: TONIKO MELO
Com: WAGNER MOURA, JULIANO CAZARRÉ, GISELE FRÓES, AMAURY JR.
30.03.2011
Por Nelson Hoineff
A DILUIÇÃO DE UM GRANDE PERSONAGEM

VIPs fala da história de Marcelo Nascimento da Rocha, o fraudador que, entre outras coisas, se fez passar pelo dono da Gol durante o Recifolia e ganhou notoriedade ao ser entrevistado por Amaury Junior. O mesmo personagem está em Historias Reais de um Mentiroso, o documentário que Monica Caltabiano dirigiu a partir do texto que ela própria escreveu sobre o personagem, e que serve de base aos dois filmes.



Se o documentário (exibido no Festival do Rio 2010) é rico, insólito, intenso – revelador da trajetória de um fraudador contumaz e do círculo de “celebridades” instalado ao redor deles - o filme de ficção, dirigido por Toniko Melo com Wagner Moura no papel de Marcelo, resume-se a uma surpreendente diluição de personagem tão grandioso.



Em VIPs, Marcelo é um compulsivo incorporador de personalidades alheias e faz isso desde a escola. Na vida adulta, é uma vítima de seu problema. Não sabe mais se é filho de seu próprio pai e qual é seu verdadeiro nome. Um pobre homem vítima de grave distúrbio de personalidade, Marcelo é aí descrito por uma coleção de clichês que nem se aproximam do Marcelo que pôde ser visto não apenas a partir do documentário sobre ele mesmo, mas nas aparições que depois disso fez na televisão. (Recentemente, numa entrevista feita da penitenciária onde está recluso a Amaury Junior, que é ridicularizado no documentário e torna-se herói no filme de ficção, Marcelo revela sua disposição de processar o diretor Toniko por tê-lo difamado e até o ator Wagner Moura, por tê-lo vivido preconceituosamente.



VIPs transforma um personagem de nuances inesgotáveis – como ele mesmo é mostrado no belo documentário de Caltabiano - num ser humano bidimensional, vivendo um mero conflito de identidade. Não aprofunda-se sequer sobre o mundo dos VIPs de ex-BBBs que infestam o Brasil hoje com mais voracidade e perigo que o mosquito da dengue. VIPs poderia ter sido no mínimo isso. Um filme sobre a patética cultura VIP brasileira, onde até em cada estréia de filmes o mundo divide-se em oito patéticas subdivisoes de VIPs, onde cada uma tem o privilégio da pipoca diferenciada.



Nem isso, contudo, VIPs promove. Alinha a narrativa às mais vulgares receitas do grande estúdio que o produz; é a diluição da diluição da diluição da fórmula que no original já é estúpida. O resultado é que nada acontece em torno de um fraudador que na vida real – em especial no documentário que ainda está por ser lançado – revela-se um ser humano de riqueza sem paralelo.

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