Críticas


NOVO DESPERTAR, UM

De: JODIE FOSTER
Com: MEL GIBSON, JODIE FOSTER
27.05.2011
Por Ricardo Cota
EM VEZ DE PALMA, UMA PALMADA

Texto publicado anteriormente no "Especial" do 64º Festival de Cannes



Jodie Foster tinha todos os méritos para exibir um filme hors concours em Cannes: atriz precoce, construiu sua carreira com papéis antológicos que vão da prostituta infantil de Taxi Driver, de Martin Scorsese (Palma de Ouro em Cannes, 1976), à investigadora determinada de O Silêncio dos Inocentes, de Johnathan Demme, que lhe valeu o Oscar de melhor atriz em 1992. Portanto, tapis rouge para ela como diretora. Mas precisava ser com The Beaver?



Em português, The Beaver (cuja tradução literal é “O Castor”) ganhou o comercialmente apelativo título de Um Novo Despertar; em francês, o intelectualmente não menos apelativo Le Complexe du Castor. Mais um exemplo de como as traduções podem falar por si da cultura de cada país.



O filme parece ter sido feito sob encomenda para livrar a barra do controverso Mel Gibson, recentemente envolvido em casos de agressão doméstica, alcoolismo e anti-semitismo, um currículo que faz de Von Trier um deliquente juvenil. Walter Black, seu personagem, é o herdeiro de uma bem-sucedida fábrica de brinquedos, casado com a atenciosa Meredith (Jodie Foster) e pai de dois filhos. Apesar do aparente sucesso, Walter enfrenta uma depressão profunda que o levará inclusive a tentativas suicidas.



Sua salvação, e aí vem a parte incrível da história, vem através de um boneco castor de pano, que, a pretexto terapêutico, lhe servirá de marionete para expressar seu self atormentado. Isso quer dizer que Mel Gibson passa grande parte do filme contracenando com o boneco de pano, lutando para retomar os negócios, voltar a ser bom marido e ótimo pai. É dura a vida do crítico.



Jodi Foster bem que se esforça para dar alguma dignidade ao filme, impondo alguma credibilidade humana a essa história improvável. Mel Gibson, por sua vez, agarra a chance de fugir ao ridículo com todas as forças. Tem a dura tarefa de dividir a indicação ao Oscar com um boneco de pano. Não é fácil, até porque em muitos momentos o destaque é o boneco.



O resultado é um filme insípido, com passagem garantida para a tevê, e provavelmente exibido hors concours em Cannes por razões que obedecem mais aos princípios do mercado do que aos da estética. Pelo humor involuntário, é candidatíssimo ao “Framboesa de Ouro” de pior filme do ano. E Jodie Foster leva a palmada de ouro.



# UM NOVO DESPERTAR (THE BEAVER)

EUA, 2010

Direção: JODIE FOSTER

Roteiro: KYLE KILLEN

Fotografia: HAGEN BOGDANSKI

Edição: LYNZEE KLINGMAN

Direção de Arte: ALEX DiGERLANDO, KIM JENNINGS

Música: MARCELO ZARVOS

Elenco: MEL GIBSON, JODIE FOSTER, ANTON YELCHIN, JENIFFER LAWRENCE

Duração: 92 minutos

Site oficial: http://www.thebeaver-movie.com/

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