Domingos Oliveira é um diretor que se destacou, ao longo dos anos, no cinema e no teatro, ainda que durante bastante tempo não tenha exercido concomitantemente as duas áreas (ficou cerca de 20 anos sem dirigir um longa-metragem antes de Amores , de 1997). Ao retomar a atividade como cineasta, Domingos passou a defender um cinema de guerrilha através de filmes realizados com orçamentos baixos (às vezes, surpreendendo nesse quesito). Em Todo Mundo Tem Problemas Sexuais , transporta uma de suas encenações para a tela – seguindo o mesmo movimento que deu origem a algumas de suas últimas produções (além do já citado Amores , Separações e Carreiras ).
Desta vez, porém, Domingos não avança na interface cinema/teatro. Lembrando a estrutura de Ricardo III – Um Ensaio , de Al Pacino, o diretor entrelaça a recriação de cenas para o filme com a apresentação das mesmas no Teatro Dulcina, com ou sem a presença de público, e leituras dos atores numa mais que breve evocação de processo de trabalho. Apesar de assumir, nos primeiros instantes de projeção, que não quis esconder a origem do projeto (atrelada ao palco), Domingos Oliveira não propõe uma “contracena” entre as gramáticas do teatro e do cinema. Tudo parece um tanto aleatório. Domingos aproveita pouco, por exemplo, a possível simbiose entre o espectador de cinema e o de teatro.
Os entreatos separando os quase esquetes que compõem a estrutura de Todo Mundo Tem Problemas Sexuais são bastante fracos. Domingos traz à tona, de maneira pálida, a atmosfera dos cabarés filosóficos, uma das principais características, juntamente com a vertente confessional, de seu teatro no decorrer da década de 90. As próprias cenas da peça/filme, extraídas de cartas recebidas pelo psicanalista Alberto Goldin, resultam insatisfatórias devido à fragilidade dos textos em torno de um casal que briga por causa de Viagra; de outro que desperta para uma sexualidade menos ortodoxa; de mais um que não mede os riscos diante de jogos sexuais; de funcionários de uma farmácia que travam relação maliciosa; e de desconhecidos que começam a interagir literalmente no escuro.
O registro fica mais próximo do show de humor (a última cena confirma, em especial, essa tendência) que barganha a gargalhada da plateia através das interpretações histriônicas dos atores do que da costumeira habilidade de Domingos Oliveira em proferir verdades profundas com o máximo de informalidade. Em Todo Mundo Tem Problemas Sexuais , a atmosfera descontraída não foi suficiente para validar o resultado.
# TODO MUNDO TEM PROBLEMAS SEXUAIS
Brasil, 2008
Direção: DOMINGOS OLIVEIRA
Roteiro: DOMINGOS OLIVEIRA, baseado em peça de DOMINGOS OLIVEIRA e ALBERTO GOLDIN
Produção: RENATA PASCHOAL
Fotografia: LUIZ PAULO NENEN
Trilha Sonora: DOMINGOS OLIVEIRA, BERNARDO GEBARA
Elenco: PEDRO CARDOSO, PRISCILLA ROZENBAUM, CLAUDIA ABREU
Duração: 80 minutos
