Críticas


SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA

De: MANOEL DE OLIVEIRA
Com: RICARDO TRÊPA, CATARINA WALLENSTEIN, DIOGO DÓRIA, LEONOR SILVEIRA
23.06.2011
Por Daniel Schenker
ARTICULAÇÕES, COMPOSIÇÕES, CITAÇÕES

Manoel de Oliveira experimenta diferentes conexões entre narração e imagens em Singularidades de uma Rapariga Loura , adaptação de um conto homônimo de Eça de Queirós, sobre o relacionamento entre o contabilista Macário (interpretado por Ricardo Trêpa, neto do cineasta e presença habitual em seus filmes) e a vizinha, a jovem Luísa (Catarina Wallenstein). O espectador acompanha os esforços de Macário para se aproximar da moça, o confronto com o tio, Francisco (Diogo Dória, também frequente no cinema de Oliveira), e a inconstância financeira enfrentada pelo protagonista. O enredo é narrado em sequência cronológica, linear, mas a partir da narração de Macário a uma desconhecida (Leonor Silveira, mais uma escalação constante) durante uma viagem de trem ao Algarve.



Quando Macário começa a relatar todo o ocorrido à companheira de viagem, Manoel de Oliveira investe na tradicional reiteração entre narração e imagens. Mas logo rompe com essa articulação previsível. Imagens do flerte entre os personagens centrais – ele fingindo ler uma carta na varanda, ela com o leque na janela – surgem sem o apoio da narração. Em outros momentos, a narração de Macário não é ilustrada por imagens correspondentes. E em vários instantes Manoel de Oliveira intercala a narração no trem com as cenas. As duas camadas dão continuidade uma à outra nas passagens que explicam como Macário perdeu o dinheiro que ganhou em Cabo Verde e mostram a reconciliação com o tio Francisco.



Determinadas sequências revelam o gosto do diretor pela composição da cena. Exemplos: aquela em que Luísa lê uma carta de Macário, enviada de Cabo Verde, enquanto vê, por trás de uma cortina transparente, o novo funcionário contratado por Francisco; a imagem do recorte da porta do modesto quarto de Macário estampado na parede; e a chegada dos convidados para uma reunião registrada pelo reflexo de um espelho.



Singularidades de uma Rapariga Loura também é um filme de citações. A Eça de Queirós, evidentemente. E a Fernando Pessoa (sob o pseudônimo de Alberto Caeiro), recitado pelo ator Luís Miguel Cintra, que, há décadas, vem participando de produções de Manoel de Oliveira (e de outro célebre cineasta português, o falecido João César Monteiro). Sintético, o filme tem final algo abrupto que pode desconcertar boa parte do público.



# SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA

Portugal, 2009

Direção e Roteiro: MANOEL DE OLIVEIRA

Produção: JACQUES ARHEX

Fotografia: SABINE LANCELIN

Montagem: MANOEL DE OLIVEIRA, CATHERINE KRASSOVSKY

Elenco: RICARDO TRÊPA, CATARINA WALLENSTEIN, DIOGO DÓRIA, LEONOR SILVEIRA

Duração: 63 minutos

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