Críticas


PRENDA-ME SE FOR CAPAZ

De: STEVEN SPIELBERG
Com: LEONARDO DICAPRIO, TOM HANKS, CHRISTOPHER WALKEN, MARTIN SHEEN
25.02.2003
Por Marcelo Janot
DE VOLTA AO PARQUE TEMÁTICO DE SPIELBERG

A competência técnica do cinema de Steven Spielberg, aliada a uma espécie de síndrome de Peter Pan que lhe confere uma extraordinária capacidade de traduzir o imaginário juvenil, o transformaram com justiça no “mago do entretenimento em Hollywood”. Há, no entanto, pouca poesia em seu universo de sonhos (exceção feita a Contatos Imediatos do Terceiro Grau). No caso dos filmes adultos, salvo quando Kubrick deu uma forcinha (com o argumento de A.I. – Inteligência Artificial), tampouco há algum tipo de profundidade que o desvie da segura trilha do pragmatismo.



Quando ele tenta mudar de rota, o resultado é equivocado e indigesto como a salada de influências de Minority Report. Nada melhor, portanto, que Spielberg volte a fazer com competência o que ele sempre soube: um bom produto de entretenimento. Visto sob essa ótica, Prenda-me Se For Capaz funciona.



Nele, Spielberg retoma um de seus temas prediletos – a crise de identidade a partir da ausência paterna e do conflito familiar – sem grandes pretensões filosóficas. É apenas piegas, como sempre foi, mas isso a gente já aprendeu a relevar, nem chega a incomodar tanto. O que incomoda é esse seu excesso de patriotismo, que está sempre presente em maior ou menor escala em seus filmes. Aqui, ele procura mostrar, no fundo do balde de pipoca, que uma grande nação se constrói em cima dos pilares da tolerância, da confiança e da capacidade de superação e regeneração do cidadão. Valores de uma América inocente, que ainda não era permanentemente monitorada por câmeras de vigilância, e que nada tem a ver com o universo apocalíptico de Minority Report, onde a justiça não tarda mas falha.



Ignorando seu reacionarismo (e a cutucada braba que dá nos franceses), é prazeroso observar o esmero com que Spielberg trabalha para recriar essa época em que Frank Abagnale Jr. reinava como um doce vigarista. Dos créditos de abertura aos mínimos detalhes do uniforme da Pan Am, passando pelas belas interpretações de Leonardo DiCaprio, Tom Hanks e sobretudo Christopher Walken, tudo parece pensado de forma a colocar o espectador em mais um daqueles parques temáticos spielberguianos, nos quais, em nome do entretenimento, a magia deixa o realismo em segundo plano (embora o personagem seja verídico e os brasileiros sejam lembrados daquele vigarista que até há pouco tempo levava uma vida de playboy se fazendo passar por filho do dono da companhia aérea Gol).



Mas o que é qualidade também acaba se tornando problema. Ao retomar suas obsessões temáticas e estéticas, em certos momentos do filme Spielberg deixa a impressão de que liga o piloto automático e passa a conduzi-lo burocraticamente, como se apenas estivesse extraindo mais um produto eficiente de sua linha de montagem. Deixa passar falhas no roteiro (o pouco convincente envolvimento romântico de Frank com a feiosa Brenda Strong, a ausência de tensão na cena chocha de sua captura na França) e exagera no sentimentalismo no final. Por outro lado, mostra porque é um fora-de-série no timing perfeito de seqüências como a do encontro de Hanks e DiCaprio no quarto de hotel ou na da fuga espetacular ladeado pelas falsas aeromoças. O jogo de gato e rato entre o vigarista e o agente do FBI garante duas horas de entretenimento. Como num parque de diversões, a gente esquece de tudo assim que bota os pés fora dali. Até porque, nesse caso, o brinquedo é bom mas não tem nada de novo.



# PRENDA-ME SE FOR CAPAZ (CATCH ME IF YOU CAN)

EUA, 2002

Direção: STEVEN SPIELBERG

Roteiro: JEFF NATHANSON

Produção: STEVEN SPIELBERG E WALTER F. PARKES

Fotografia: JANUSZ KAMINSKI

Montagem: MICHAEL KAHN

Música: JOHN WILLIAMS

Elenco: LEONARDO DICAPRIO, TOM HANKS, CHRISTOPHER WALKEN, MARTIN SHEEN, NATHALIE BAYE, AMY ADAMS, JENNIFER GARNER

Duração: 141 min.

site: http://www.dreamworks.com/catchthem





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