Críticas


LARRY CROWNE – O AMOR ESTÁ DE VOLTA

De: TOM HANKS
Com: JULIA ROBERTS, TOM HANKS
06.09.2011
Por Nelson Hoineff
LOBOTOMIAS

A crença na incapacidade do público em distinguir entre o bom e o ruim não causa apenas injustiças pontuais no desempenho comercial de alguns filmes. Ela alimenta dogmas que, ao refluirem, atingem a percepção do meio pelo usuário. Cria-se enfim um círculo vicioso onde a conclusão extrema apontaria para a inviabilização da qualidade num ambiente competitivo.



Ao sair de uma sessão especial de Larry Crowne, por exemplo, ouvi um espectador comentar com outro: - Cinema americano é assim mesmo.

Não é. Nenhum cinema do mundo é assim, o ser humano não é assim. Larry Crowne é uma expressão desse dogma. Reduz a experiência humana à indigência. É burro, estúpido, medíocre, agressivo. Pode ser vendido como um filme, mas é na verdade uma lobotomia. Não deveria ser objeto de resenhas, mas de estudos de medicina e criminalística.



Larry Crowne fundamenta-se no personagem em que se tornou Julia Roberts, e no que Hanks nunca deixou de ser. O mundo não precisa deles para seguir adiante. Como diretor, Hanks é reverente aos clichês e às caricaturas que emanam daí. Seus coadjuvantes parecem coristas de espetáculos de quinta categoria da Broadway, são como figurantes de Zorra Total. Alguém deveria fazer um documentário sobre isso. O que nos é ofertado constrange-nos, mas acima de tudo nos violenta. Ninguém tem o direito de imaginar que somos tão estúpidos assim.



Uma vez que não se pode impedir que filmes como Larry Crowne sejam feitos, compete-nos entender como neutralizar sua ação sobre a massa que é induzida a saboreá-lo. Nada deve ser proibido, mas muito pode ser incentivado. Quando vi Larry Crowne, a sala ao lado exibia Um Conto Chinês. Numa estava a estupidez, noutra a inteligência; numa o cinema grosseiro, noutra o cinema refinado; numa o desprezo pelo ser humano, noutra o entusiasmo por ele. Numa o que há de pior na construção de um espetáculo cinematográfico, noutra o que há de mais nobre. O Ministério da Saúde, se tivesse com os cérebros o mesmo cuidado que tem com os pulmões, poderia engendrar uma campanha para dar 90% de desconto para ver Darín a quem gastasse um real para consumir Hanks.

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