Críticas


ELVIS & MADONA

De: MARCELO LAFFITTE
Com: IGOR COTRIM, SIMONE SPOLADORE, SÉRGIO BEZERRA
27.09.2011
Por Carlos Alberto Mattos
QUANTO MAIS ROMÂNTICO MELHOR

Embora lide com humor, sexo improvável e uma frontal disposição para o apelo popular, Elvis & Madona não pode ser confundido com as neochanchadas em voga no cinema brasileiro. Não há no filme de Marcelo Laffitte aquela pressa de chegar, aquela sofreguidão de resultados, nem a vulgaridade que caracterizam alguns desses filmes recentes. Ao contrário, vê-se o intuito de entrar nas franjas da comédia de gêneros invertidos e atravessar para o lado da legítima comédia romântica.



Pode-se acusar esse tratamento romântico de minimizar o teor de transgressão do estranho casal formado por Elvis/Elvira e Madona/Adailton. Desde as primeiras cenas de aproximação entre a entregadora de pizza lésbica e o cabeleireiro travesti em apuros, temos uma perspectiva de “naturalização” do que seria potencialmente escandaloso. Tudo é incorporado como “coisas de Copacabana”, conceito um tanto gasto do absurdo urbano carioca. Mas é justamente essa anulação do escândalo que vai aos poucos construir a “verdade” de Elvis & Madona. Uma legitimidade que se realiza na química entre Igor Cotrim e Simone Spoladore, assim como nos cuidados do roteiro para não trair o projeto romântico em troca de uma diversão mais escrachada.



A evolução dos personagens soa bastante plausível, especialmente depois que a ideia de família se instala e eles têm que lidar com todas as ambivalências de sua condição. No fundo, nem Madona é tão mulher assim, nem Elvis é tão homem a ponto de não acreditarmos naquela união a princípio estapafúrdia. Como dizia o personagem de Billy Wilder na última cena de Quanto Mais Quente Melhor, “ninguém é perfeito”. Nem Elvis & Madona, com suas tiradas ineficientes em meio a tantos bons diálogos, ou suas fragilidades de caricatura – sobretudo no salão de beleza – contrastando com a boa construção de uma dinâmica dramatúrgica. Mesmo com arestas e limitações, o filme se impõe pela veracidade humana de seus personagens. E isso, no terreno minado da comédia transexual, acaba sendo uma autêntica transgressão.

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