Críticas


DIA EM QUE EU NÃO NASCI, O

De: FLORIAN COSSAN
Com: JESSICA SCHWARZ, MICHAEL GWISDEK, BEATRIZ SPELZINI, RAFAEL FERRO
04.11.2011
Por Luiz Fernando Gallego
OLHAR ESTRANGEIRO

Florian Cossan, o diretor de O Dia em que eu não nasci, tem nacionalidade alemã mas nasceu em Israel onde residiu alguns anos de sua infância. Já adulto, ao retomar estudos de hebraico, ouviu em aula uma canção que teria escutado há mais de duas décadas, percebendo que sabia cantar trechos da letra mesmo sem entender o significado das palavras. Para ele, “guardamos memórias das quais não lembramos”. Até que...



Em seu longa de estréia Das Lied in Mir (título original), uma nadadora profissional, Maria Falkenmayer, sai da Alemanha para uma competição no Chile com conexão de vôo em Buenos Aires. No saguão de espera do aeroporto uma mãe embala seu bebê com uma cantiga em espanhol e Maria, perplexa, se dá conta de que conhece a melodia e a letra sem que saiba nada da língua. Perturbada, acaba por distrair-se e perder seu passaporte, sendo obrigada a permanecer na Argentina por alguns dias, vindo a descobrir que de fato havia nascido lá. Como reza o título original, a canção estava nela, mas a letra completa de suas origens, ela só vai descobrir ao longo do filme.



Se a abertura é intrigante, o desenvolvimento do enredo no roteiro do próprio cineasta (em co-autoria com Elena von Saucken) é previsível e nem sempre convincente nos pontos de evolução dos fatos: seja na súbita vinda de seu pai da Alemanha para Buenos Aires, seja no envolvimento amoroso com um policial argentino que fala alemão (e que de início talvez a tenha extorquido), ou ainda nas atitudes de Maria e de uma família local que pode esclarecer suas origens; suas reações iniciais parecem servir para adiar um pouco mais o esclarecimento pleno do passado – bastante óbvio para quem conhece um pouco da história recente da Argentina. Com isto, o ritmo fica um pouco lento na segunda metade do filme.



A narrativa cinematográfica é mais satisfatória. Curioso é o uso alternado de foco e perda de foco para o que está em primeiro e segundo plano, tal como em A Vida dos Outros (mania de cineastas alemães estreantes?). Os atores alemães (Jessica Schwarz e Michael Gwisdek) e argentinos (Beatriz Spelzini e Rafael Ferro) ajudam a manter o interesse no filme que não deixa de ter um olhar estrangeiro sobre uma realidade sul-americana (mais bem exposta no já antigo e clássico A História Oficial). Tal “olhar estrangeiro”, no entanto, parece encontrar identificação por parte dos alemães e canadenses, já que o filme foi muito bem recebido em premiações germânicas e no Festival de Montreal. Pra nós, pode soar algo superestimado.

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