Críticas


BANDA DE IPANEMA – FOLIA DE ALBINO

De: PAULO CEZAR SARACENI
27.02.2003
Por Carlos Alberto Mattos
FILME DE FOLIÃO

Em Banda de Ipanema – Folia de Albino, Paulo Cezar Saraceni está correndo atrás de uma utopia: documentar o carnaval sem deixar de ser, ele mesmo, um folião. Tenta fazer um filme sem assumir um olhar exterior de quem, compenetradamente, documenta. Mário Carneiro empunha a câmera digital no meio do desfile, um pouco como Dib Lutfi e Walter Lima Jr. fizeram no célebre carnaval niteroiense de A Lira do Delírio. Com a diferença de que Saraceni não quer construir uma ficção, mas uma homenagem ao fundador da banda, Albino Pinheiro.



De alguma forma, ele já tinha perseguido objetivo semelhante no desbundado Amor, Carnaval e Sonho. Naquele filme, Saraceni também se deixava filmar requebrando-se sensualmente, no papel de uma entidade meio mefistofélica, ao lado de Leila Diniz. Banda de Ipanema tem um ar de filme doméstico, uma ruidosa e descompromissada celebração entre amigos. Se isso resulta num bom documentário, são outros quinhentos.



Num dos vários depoimentos de arquivo, Albino Pinheiro alerta seus ouvintes para o que ele julgava “ser carioca”. Quem não entender as curvas e o humor do Rio, dizia, é melhor fazer as malas e mudar de cidade. O Rio, segundo ele, seria fruto de muitas misturas e de um estado de espírito especial, irredutível a explicações cartesianas. “Do papo furado é que sai a grande verdade”, pontificava. Saraceni procura ser fiel a esse receituário. As cenas iniciais do filme são de uma festa no bar Jangadeiros, onde a nata da velha boemia ipanemense se reúne para iniciar a pajelança a Albino. Se o espectador não partilhar do hedonismo reinante, dificilmente vai resistir à repetição de brindes, exclamações vazias e abraços cifrados entre amigos. Mais adiante, Fausto Wolf conduz, do alto de um porre clássico, uma série de entrevistas inconseqüentes, onde também cabe uma acirrada, mas risonha, discussão de métodos com o próprio diretor.



Saraceni filmou a saída da banda no carnaval de 2000, poucos meses depois da morte do homenageado. Uma época em que a graça parece ter virado exclusividade dos travestis. Fala-se muito de Albino, mas ninguém sairá do filme com um retrato completo do personagem. Ficamos sabendo que a banda se inspirou numa assemelhada de Ubá (MG), mas nada sobre os músicos que, há mais de 30 anos, animam a mais famosa manifestação carnavalesca da Zona Sul carioca. A pesquisa é superficial, assim como o acabamento sonoro é praticamente inexistente. Mas esse tipo de exigência, afinal, talvez não seja tão carioca... Saraceni toma uma atitude que dependerá muito do olhar de quem olha. Seu filme pode parecer simplesmente desmazelado ou a proposta radical de um documentário dionisíaco.



#BANDA DE IPANEMA – FOLIA DE ALBINO

Brasil, 2002

Direção e roteiro: PAULO CEZAR SARACENI

Produção: LUIZ CARLOS LIRA

Fotografia: MÁRIO CARNEIRO

Som: LUIZ CARLOS SALDANHA

Montagem: MARÍLIA ALVIM

Duração: 86 minutos

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