Críticas


PREÇO DO AMANHÃ, O

De: ANDREW NICCOL
Com: JUSTIN TIMBERLAKE, AMANDA SEYFRIED, CILLIAN MURPHY
09.11.2011
Por Luiz Fernando Gallego
TEMPO É DINHEIRO, DINHEIRO É TEMPO

Roteirista de O Terminal, de Spielberg (2004), e de O Show de Truman (1998), Andrew Niccol já havia estreado na direção com Gattaca - Experiência Genética (’97), retomando neste seu novo filme, O Preço do Amanhã, a premissa futurista de uma humanidade manipulada geneticamente contra doenças – e agora, contra o envelhecimento.



A idéia do filme é mesmo genial, sendo surpreendente que ninguém tenha pensado antes na radicalização da premissa segundo a qual “tempo é dinheiro”, transformando o tempo em moeda propriamente dita. Logo nas primeiras cenas somos informados que os humanos não envelhecem mais quando chegam aos seus 25 anos, mas... morrem aos 26... A não ser que comprem mais tempo, herdem tempo “de família”, roubem tempo de outras pessoas.



O salário são pagos em tempo de vida, as contas são pagas com o tempo que se tem armazenado, visível em holograma no braço de cada um (uma espécie de “tatuagem modificável” com dígitos de relógio digital) chamado prosaicamente apenas de “relógio” mesmo. Mas que marca o tempo que resta de vida: dias, horas, minutos, segundos...



Como em todo bom argumento de ficção científica, o retrato deste futuro é bem atual: nem todos morrem aos 26, pois se todos são iguais no “stop” de envelhecimento, alguns são “mais iguais” do que outros. Ou seja, há guetos onde todos correm para não perder tempo (de vida!), aproveitar o pouco que têm, o pouco que recebem em salários, gastando muito a cada compra de comida, transporte e até para falar em telefone público (“Favor depositar um minuto para a ligação se efetivar”). E há regiões como a obviamente denominada “New Greenwich” onde os ricos podem viver séculos... até mesmo eternamente –desde que não sofram acidentes, agressões físicas brutais que podem levar a mortes violentas. Vivem cercados de guarda-costas, e mesmo residindo em mansões com praias particulares evitam até mesmo entrar no mar. Uma vida tão longa quanto restrita.



É uma pena que idéia tão boa tenha sido desenvolvida pelo diretor-roteirista em alguns aspectos de modo tão conformado às necessidades do cinema comercial bem rotineiro, com as indefectíveis perseguições automobilísticas e um romance entre pobretão e uma menina rica (do tipo “pobre menina rica”).



Nem tudo é rotina (ainda bem) havendo algumas sugestões (involuntárias?) de referências a clássicos de sci-fi tão heterodoxos como Alphaville, de Godard – ou mesmo algum clima do casal em fuga de Pierrot le Fou – O Demonio das Onze Horas - em grande parte pelo visual da atriz Amanda Seyfried que lembra muito a jovem Anna Karina, então musa e presença fixa nos filmes de Godard da primeira fase.



Mas como nem tudo é perfeito, o desempenho de Amanda incorre em uma fragilidade mais robotizada (não-intencional) do que seria a monotonia de uma vida possivelmente eterna dos ricos. Inversamente, os pobres são mais vitais e é uma pena que Olívia Wilde apareça tão pouco como a mãe de Justin Timberlake, ele com seus supostos 25 anos e ela com 50 (ou duas vezes 25, muito gata). As atrações edípicas e incestuosas ficaram de fora das piadas em que um ricaço apresenta sua esposa, mãe e sogra, absolutamente estereotipadas como peruas com a mesma cara (talvez como as atuais plastificadas que ficam todas parecidas).



Satisfatório como distração com idéias inteligentes, o filme, embora não renda tudo que o argumento prometia, tem a vantagem de ser fotografado pelo sempre ótimo Roger Deakins, já indicado a nove prêmios da Academia (a maioria em filmes dos Irmãos Coen) sem ainda ter levado nenhuma estatueta. O ritmo é garantido pelo montador (oscarizado por Matrix), Zach Staemberg - que também editou o filme anterior de Niccol, O Senhor das Armas, em 2005.

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