Críticas


CHAVE DE SARAH, A

De: GILLES PAQUET-BRENNER
Com: KRISTIN SCOTT THOMAS, MÉLUSINE MAYANCE, NIELS ARESTRUP
15.11.2011
Por Luiz Fernando Gallego
EXPLORANDO O HOLOCAUSTO

A Chave de Sarah é um melodrama de perseguição nazista aos judeus franceses enfocando os horrores aos quais foram submetidos no infame aprisionamento de dias e em condições sub-humanas no Velódromo de Inverno de Paris (já demolido, ironicamente, em seu lugar, hoje em dia, fica o prédio do Ministério do Interior) antes de serem enviados a campos de concentração e morte.



E também é um melodrama sobre uma história contemporânea na qual uma jornalista desenterra fatos ligados àqueles eventos ocorridos em 1942. Em sua pesquisa, vai descobrir que há ligações da evacuação dos judeus com o apartamento onde a família de seu marido esteve morando exatamente desde aquele ano. Além disso, ela está grávida, em idade já nem tão jovem e seu marido não quer ser pai madurão.



Infelizmente, o romance homônimo de Tatiana De Rosnay do qual o filme foi retirado talvez já fosse tão ruim como o que chegou às telas com ares de “Holocausto-exploitation” ao imaginar uma história terrível a partir dos fatos reais de julho de ’42. Em montagem paralela, passado e presente vão se alternando com ênfase emotiva para o suspense no passado: conseguirá a menina Sarah fugir para resgatar o irmãozinho menor que ela impediu de ser levado pela polícia francesa?



Se não é tão grotesco e cabotino como O Menino do Pijama Listrado, este filme fica a anos-luz do que Amos Gitai realizou com Jeanne Moreau (Um Dia Você vai compreender) e que não precisou explorar abusivamente de horrores reais ou imaginários, concentrando-se quase sempre no presente para abordar temas delicados (e mesmo tabus) sobre o colaboracionismo francês e condutas de rapina sobre os bens que judeus foram obrigados a deixar para trás.



A história da perseguição antissemita pelo nazi-fascismo não precisa de dramalhões ficcionais que sublinhem o horror que foi a realidade. Seria mais do que suficiente usá-la tal como foi ao ser colocada como pano de fundo de um enredo ficcional. É indigno utilizar a História em filmes como este, de aberto interesse comercial, repleto de clichês novelescos com lances mórbidos (de mau gosto) como se fosse necessário "agravar" a História - mas, para contrabalançar, "adoçar" tudo com um lance meigo de gravidez na atualidade apesar das adversidades cotidianas que as mulheres enfrentam. Uma salada indigesta, dessas de provocar náuseas.



Um único álibi isolado mas insuficiente para justificar a chorumela que é este filme fica no diálogo entre a jornalista que está escarafunchando o passado e um colega de profissão bem mais jovem que estranha a falta de documentação do episódio de concentração dos perseguidos no Velódromo: ele estranha a ausência de fotos ou de outros dados, já que os nazistas eram tão obcecados no registro rigoroso do que faziam - ao que a outra responde: "Não foram os nazistas. Foram os franceses".



Texto revisto a partir do que foi divulgado neste site durante o Festival do Rio 2011

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