Críticas


PORTA A PORTA

De: MARCELO BRENNAND
17.12.2011
Por Carlos Alberto Mattos
DEMOCRACIA OU ESCAMBO?

Diz o senso comum que a democracia representativa é uma merda, mas não existe melhor opção. Pois até o senso comum fica ameaçado por amostras como as contidas no documentário Porta a Porta – A Política em Dois Tempos. Marcelo Brennand acompanhou a campanha para prefeito e vereador em 2008 na cidade pernambucana de Gravatá. Coletou evidências de que o jogo eleitoral, ali como em tantas cidades do interior do Brasil, não passa de um escambo quase primitivo de favores, empregos etc. OK, sabemos disso muito bem, mas nem sempre temos a chance de ver o monstro em ação.



Para começar, numa cidade pequena como aquela, de 80.000 habitantes, sem indústria nem produção rural expressiva, o município é o principal empregador. Ter seu voto ou seu trabalho de cabo eleitoral “reconhecido” pelo candidato vitorioso pode significar um posto de trabalho mais adiante. A própria militância na campanha é um emprego sazonal precioso, com salários que superam a média dos menos favorecidos. Ninguém disfarça – sequer diante das câmeras – que um voto pode ser trocado por uma porta de banheiro ou um exame de vista, ainda que nenhuma das partes venha a cumprir sua palavra - nem o político depois, nem o eleitor na hora da urna.



Por conta de toda essa movimentação, que altera profundamente a rotina do lugar, a cidade se divide como na festa do Boi de Parintins: azuis e vermelhos se enfrentam nas ruas, às vezes fisicamente. O título do filme se refere à prática dos candidatos e militantes de bater a cada porta para pedir “a sua confiança e o seu voto”. Os candidatos são comerciantes, taxistas, lavradores, e suas motivações variam da tradição familiar ao senso de oportunidade. Inaugurar três semáforos ou remodelar um açougue são façanhas que podem assegurar uma reeleição. Quem falar em ideologia corre o risco de ser tomado por grego.



Porta a Porta usa uma narração em primeira pessoa do diretor para se orientar no período da campanha e na volta à cidade um ano depois das eleições. Não há grandes pretensões além de narrar seu case e rascunhar alguns bons personagens. Mas ao flagrar momentos realmente definidores de uma prática política bem distante dos ideais democráticos, o filme diz a que veio.

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário