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L’APOLLONIDE, OS AMORES DA CASA DE TOLERÂNCIA

06.04.2012
Por Dinara Guimarães
CASA DE TOLERÂNCIA: AS LÁGRIMAS DE EROS

A particularidade de Bertrand Bonello no seu filme L’Apollonide, Os Amores da Casa de Tolerância (L´Apollonide, souvenirs de maison close), de 2011, é que, por dentro da casa de tolerância, sua câmera endoscópica vê a fantasia de Madeleine, apelidada “Judia”, realizar-se. Nesse espaço onde se goza e se morre em um tempo composto somente de instantes sem vinculação e sem duração, desnuda prostitutas e relações de poder, sexo e dinheiro no final do século XIX, que talvez permaneçam em segredo neste século.



A câmera endoscópica desvela um acontecimento: as lágrimas de esperma derramadas em rosto desfigurado sobressaem a fantasia com a substância do gozo. No sorriso congelado de seu rosto cortado por ter se entregue ao gozo com um dos clientes, a marca da cicatriz é apenas o olhar. Através dele, de certa maneira, o diretor faz o cinema chorar “As lágrimas de Eros”, de Bataille em seu estudo sobre a história do erotismo, particularmente do sadismo.



Dado a semelhança com os temas de Bataille e também de Sade, o erotismo, o riso, a morte, o êxtase, o impossível, de alguma forma presentes na seqüência de imagens do cinema de Bonello, compreende-se porque estes temas se tornaram uma obsessão para ele. Todos seus filmes (a vida de um cineasta pornô em O Pornógrafo, de 2001, travestis brasileiros na França em Tirésia, de 2003) trazem à cena o gozo. O gozo porque deves! O gozo que obriga o corpo a inventar virtualidades corpóreas, muito caras aos artistas, pelo reviramento do olhar que provocam.



Dinara G. Machado Guimarães é Psicanalista, Doutora em Comunicação. Autora de "Vazio iluminado: o olhar dos olhares" e "Voz na Luz, em Psicanálise e cinema”.

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