Críticas


SETE DIAS COM MARILYN

De: SIMON CURTIS
Com: MICHELLE WILLIAMS, KENNETH BRANAGH, JUDI DENCH, EDDIE REDMAYNE
03.05.2012
Por Luiz Fernando Gallego
UMA ESTRELA DE HOLLYWOOD FILMANDO EM PINEWOOD

Não foram poucos os filmes que voltaram suas câmeras para retratar filmagens: A Noite Americana, de François Truffaut (1973), Cantando na Chuva, de Stanley Donen/Gene Kelly e Assim estava escrito, de Vicente Minelli (ambos de 1952) são alguns dos mais memoráveis momentos em que o cinema ficcionalizou seus bastidores.



Muito mais raro é o caso de um enredo que aborde um filme que - de fato - tenha sido rodado, como se dá em Sete dias com Marilyn, um recorte sobre a vida da maior estrela hollywoodiana de seu tempo, quando esteve em Londres na única produção em que participou fora dos Estados Unidos: The Prince and the Showgirl(1956/57), de - e com - Laurence Olivier.



Ainda que o foco maior deste primeiro longa-metragem (fora da TV) dirigido rotineira mas corretamente por Simon Curtis esteja em um suposto romance fugaz de Marilyn com um “terceiro assistente de direção”, um dos pontos mais curiosos deste filme é a recriação de algumas cenas do quarto filme que Olivier dirigiu , o primeiro que não se baseava em peças shakespeareanas.



Aliás, pode ser bem interessante alugar o DVD de O Príncipe Encantado antes de assistir o filme com Michelle Williams no papel de Marilyn, e Kenneth Branagh encarnando Olivier: o espectador terá oportunidade de observar a recriação de cenas do filme rodado em 1956 neste de 2011, com o bônus de poder confrontar a sempre extraordinária Judi Dench como ‘Dame’ Sybill Thorndike. E desse modo poder ver ambas interpretando as mesmas falas de uma personagem de O Príncipe Encantado.



A produção de My Week with Marilyn é tão caprichada em detalhes que chega a usar o badalado pianista clássico, Lang Lang para executar o “Tema de Marilyn” composto pelo prolífico Alexandre Desplat (125 trilhas entre 1991 e 2011, incluindo O Discurso do Rei, A Árvore da Vida, A Rainha e O escritor Fantasma).



Nada disso teria importância se a ‘Marilyn’ de Michelle Williams não estivesse tão bem retratada. Sem se parecer com a mítica estrela, Michelle consgue fazer com que esqueçamos a beleza única de Marilyn no filme de 1956 e tenhamos a sensação de que estamos acompanhando a verdaderia Marilyn em sua confusa estada londrina. Um dos melhores momentos do filme e de Michelle é quando sua Marilyn anuncia algo como “está na hora de ser como ela”, referindo-se à persona sexy e sorridente com um misto de malícia e ingenuidade que era marca registrada da superstar. Talvez melhor atriz na vida do que nas telas...



E importa pouco que o livro original do “terceiro assistente de direção”, Colin Clark (1932-2002), narrando sua “semana com Marilyn” não tenha merecido muito crédito quando lançado - bem depois que todos os personagens reais importantes já estavam mortos - portanto, livre de maior contestação. Se o roteiro de Adrian Hodges (com ótimos diálogos) parece bem fiel às cenas de filmagens nos anos 1950, ao ser fiel ao questionável relato de Clark aborda o que seria uma fantasia de inúmeros fãs: provar da intimidade de uma estrela idealizada.



Mas nem tanto: pois se há uma certa ênfase nas inseguranças e carências da estrela, não deixa de haver menção à sua capacidade de seduzir e descartar os seduzidos, tanto quanto se sentia descartável por aqueles que escolhia como seus “príncipes encantados”.



Além de Michelle e Judy Dench, há ótimos desempenhos de Eddie Redmayne, em sua melhor oportunidade até agora, como Colin Clark; e Branagh como Olivier (cuja carreira ele sempre mimetizou, estreando na direção com uma nova versão de Henrique V e filmando seu próprio Hamlet, em ambos nos papéis centrais, tal como seu antecessor).



Pode-se questionar a aparência física bem envelhecida de Julia Ormond como Vivien Leigh (e até mesmo o retrato que o filme deixa de Vivien), mas não o que Julia pôde fazer com suas falas. Pode-se questionar se já naquela época o dramaturgo Arthur Miller, terceiro marido de Marilyn, já estaria esboçando sua polêmica peça Depois da Queda na qual deixou um retrato cruel de Marilyn. Mas, afinal, estamos mesmo frente a uma recriação romantizada, algo como um filme dos anos 1950, a época áurea de Marilyn.. Só que fora de sua habitual Hollywood, nos estúdios ingleses de Pinewood onde uma estrela das telas vai enfrentar suas inseguranças e medos frente a uma time de monstros sagrados do teatro inglês.

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