Críticas


PIANISTA, O

De: ROMAN POLANSKI
Com: ADRIEN BRODY, THOMAS KRETSCHMANN, FRANK FINLAY
09.03.2003
Por Marcelo Janot
O HORROR DE FORMA SECA E DIRETA

O título O Pianista, e o fato de o personagem principal ser um músico polonês de prestígio no momento em que os alemães ocupam Varsóvia, causam a equivocada impressão de que a profissão do protagonista terá importância vital no desenrolar da trama. Na verdade, o único momento em que os dotes musicais de Wladyslaw Szpilman têm alguma serventia em meio ao horror da Guerra é quando um oficial nazista se sensibiliza ao vê-lo tocando e passa a ajudá-lo.



Não espere, portanto, encontrar no filme de Roman Polanski metáforas relacionando música e vida, nem tampouco qualquer enobrecimento da condição artística do personagem. Ele é um pianista porque o filme é baseado no relato autobiográfico de um pianista (misturado a algumas lembranças do próprio Polanski, ele mesmo um sobrevivente do nazismo quando era criança), mas poderia ser sobre qualquer uma das vítimas daquela barbárie, independentemente de sua profissão.



Claro que, a partir do momento em que o protagonista é um pianista de sucesso, há ali uma clara intenção de fazer o espectador refletir sobre quantos profissionais de talento teriam desaparecido por conta da insanidade nazista. Mas Polanski parece querer evitar quaisquer armadilhas melodramáticas, então o que se vê é antes de tudo a história de um homem comum, que escapou de tudo aquilo simplesmente porque o destino assim o quis.



Ao contrário de A Lista de Schindler, por exemplo, O Pianista não busca a emoção deliberadamente, apesar da matéria-prima de que dispõe. O horror é apresentado de forma seca e direta, sem a construção de “climas” através da trilha sonora ou de artifícios de fotografia e montagem. Não que com isso o espectador não possa se emocionar, muito pelo contrário – a diferença é que Polanski não o induz a tal.



Aliás, essa opção se torna coerente a partir do momento em que Polanski conduz a ação sempre sob a perspectiva do protagonista. Assim, fica mais fácil compartilhar da visão atônita de Szpilman frente a tudo aquilo, e ao mesmo tempo o diretor fica livre das amarras documentais do filme histórico. Embora trace um panorama abrangente e fiel do horror vivido pelos judeus poloneses em Varsóvia do início ao fim da guerra, são os detalhes que fazem com que O Pianista jamais possa ser considerado apenas “mais um filme sobre o Holocausto”.



Detalhes como a cena do pai de Szpilman lendo para a família, estupefato, que eles teriam que confeccionar estrelas de Davi de medida exata para colocarem nas roupas e poderem ser identificados como judeus, têm o mesmo peso de outra em que um homem rasteja no asfalto lambendo uma porção de comida que caiu no chão, ou de um paraplégico sendo atirado do alto de um prédio pelos nazistas. Cada um desses momentos são instantâneos observados por um ser humano que, ora por astúcia, ora por sorte, vivencia aquilo tudo mas escapa do mesmo destino de seus semelhantes. É nele que Polanski cola o espectador, que também escapa de tudo aquilo, mas não consegue sair imune da sala de cinema.



# O PIANISTA (THE PIANIST)

Inglaterra/França/Alemanha/Holanda/Polônia, 2002

Direção: ROMAN POLANSKI

Roteiro: RONALD HARWOOD

Produção: ROBERT BENMUSSA E ALAIN SARDE

Fotografia: PAWEL EDELMAN

Montagem: HERVÉ DE LUZE

Música: WOJCIECH KILAR

Elenco: ADRIEN BRODY, THOMAS KRETSCHMANN, FRANK FINLAY, MAUREEN LIPMAN, EMILIA FOX

Duração: 148 min.

site: www.thepianistmovie.com



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