Críticas


SOMBRAS DA NOITE

De: TIM BURTON
Com: JOHNNY DEPP, EVA GREEN, MICHELLE PFEIFFER
29.06.2012
Por Marcelo Janot
IRRESISTÍVEL ENCANTAMENTO

Que bom que, depois do decepcionante “Alice”, Tim Burton voltou ao que ele sabe fazer melhor. “Sombras da Noite” tem um pouco de “Edward Mãos de Tesoura”, de “Ed Wood”, de “Noiva Cadáver”, de “Sweeney Todd”, de “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”, ou seja, ele retoma a atmosfera gótica peculiar e bem humorada de seus filmes anteriores a serviço de uma fábula vampiresca tratada com o esmero habitual. Como toda fantasia que se preze, ainda mais uma ambientada no ano de 1972, com a América do desbunde hippie convivendo com o sangrento conflito no Vietnã, é possível fazer analogias e leituras político-sociais. Afinal, o coração e a conta bancária estão no cerne das disputas entre o clã dos Collins, capitaneado pelo vampiro Barnabas (Johnny Depp), e a bruxa Angelique (Eva Green). Mas tudo não passa de mero pretexto pra Burton nos envolver com uma atmosfera em que nada parece agressivo, grotesco ou forjado à base de pesquisas sobre o que o espectador espera ver em filmes desse tipo.



Por mais que mate uma dezena de personagens (não sem antes dividir um baseado com alguns deles), o vampiro de Johnny Depp é sempre doce como todos os personagens que protagonizou em filmes de Tim Burton. O carisma e a doçura de Depp, aliados à riqueza de detalhes na direção de arte, às escolhas musicais e aos registros de atuação, acaba nos conduzindo a um irresistível encantamento. Tão irresistível que nos permite ignorar alguns deslizes do filme, como o exagerado gran-finale com uma luta envolvendo bruxas, vampiros e até um lobisomem (!), e a inconsistência da love story. A personagem de Victoria/Josette, apesar de pivô da maldição sofrida por Barnabas, é quase um acessório na trama, e a atriz que a interpreta (Bella Heathcote) é inexpressiva e robotizada. Sua química com Johnny Depp é tão nula que o espectador quase é levado a torcer pela malévola Angelique, numa interpretação sensacional de Eva Green. Mas são detalhes que não estragam o reencontro com o prazer de se divertir com um filme de Tim Burton.

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