Como o primeiro filme do comediante inglês Sacha Baron-Cohen, “Ali G Indahouse – O Filme” (2002), teve circulação restrita (nos Estados Unidos e no Brasil foi lançado diretamente em DVD), muito do sucesso de “Borat – O segundo melhor repórter do glorioso país Cazaquistão viaja à América” se devia ao fator surpresa causado pelo humor cáustico daquele sujeito esquisito, despejado na tela no formato de “mockumentary”, um falso documentário onde o espectador ficava com a sensação de que havia pouca coisa ali que era encenada. O riso, mais do que da persona excêntrica do falso repórter, vinha da maneira como os cidadãos americanos comuns, ao levá-lo a sério, expunham o lado ridículo de suas idiossincrasias.
O efeito devastador que “Borat” teve nos cinemas do mundo inteiro a partir de 2006, se tornando um arrasa-quarteirão nas bilheterias e conquistando aplausos quase unânimes da crítica, fez com que a fórmula fosse repetida em “Brüno” (2009), que mesmo sem o frescor da novidade, ainda assim guardava grandes momentos, como a cena chocante em que uma mãe aceita cometer barbaridades para colocar o filho em um programa de TV ou a hilária gag visual em que Brüno, vivido por Cohen, simulava uma masturbação com o espectro do falecido Milli, da dupla Milli Vanilli.
O humor de Sacha Baron-Cohen se notabilizou pelo intenso flerte com o politicamente incorreto, banhado de piadas grosseiras que algumas vezes beiravam a escatologia, mas quase sempre inteligentes. Porém, não era todo mundo que achava graça ou revelava disposição para encará-lo. Em seu mais recente filme, “O Ditador”, dirigido pelo mesmo Larry Charles de “Borat” e “Brüno”, a opção pelo estilo de falso documentário foi deixada de lado, sendo substituída por uma narrativa mais próxima do formato das comédias hollywoodianas atuais. Ou seja, o humor divide espaço com uma historinha romântica pouco convincente, parecendo uma concessão para atrair um público mais amplo.
Na pele do general Aladeen, ditador de um fictício país no norte da África chamado Wadiya, Cohen nos brinda com mais um punhado de boas piadas, disparando sua metralhadora politicamente incorreta contra árabes, judeus e americanos. A cena da luta de Aladeen contra uma mulher guarda-costas que utiliza um gigantesco seio de silicone como arma, com direito a citações de “O Iluminado” e “Touro Indomável”, é digna de antologia, assim como o parto de um bebê dentro de um mercado de produtos vegetarianos. Piadas com masturbação e envolvendo a cabeça decapitada de um defensor dos direitos civis também estão no cardápio, ao lado de outras um tanto bobocas, de humor quase infantil. Ben Kingsley e a fraca Anna Faris servem apenas de “escada” para Cohen e não conseguem dar consistência dramática ao fiapo de trama. Mesmo decepcionando em parte, o filme nos guarda uma boa surpresa no final: um discurso de Aladeen nos moldes do clamor pela paz de Charles Chaplin em “O Grande Ditador”, em que ele fala sério e dá uma cutucada certeira na noção americana de democracia.