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FESTIVAL DO RIO 2012: PIETÀ

05.10.2012
Por Carlos Alberto Mattos
NA LÂMINA DO RIDÍCULO

Pietà venceu o Festival de Veneza e é o candidato coreano ao Oscar de filme em língua estrangeira. Esta é, sem dúvida, a maior vitória de Kim Ki Duk como enganador de júris de festivais e de críticos condescendentes com o cinema que vem de Seul. Festejado por apreciadores de orientalismo naïf (Primavera, Verão..., O Arco) e melodramas disfarçados de filme de arte (Fôlego, Time), ele chega ao ápice com este conto moral sobre os horrores do capitalismo e da orfandade.



O frio e cruel Kang-do (ladrão em coreano) é um implacável cobrador de dívidas. Parece atuar somente num velho bairro de artesãos metalúrgicos endividados enquanto a cidade dos ricos cresce ao redor. Sua maneira de recobrar o dinheiro para o patrão é aleijar os pobres trabalhadores e recolher o pagamento do seguro. Ele age assim até o dia em que cruza seu caminho uma mulher misteriosa, que afirma ser sua mãe, arrependida por tê-lo abandonado ainda bebê. O que se segue não vou contar para não estragar o desprazer de futuros espectadores. Limito-me a dizer que tudo vai se tornando cada vez mais incongruente e apelativo, tanto em termos de violência como de primarismo dramatúrgico.



Kim Ki Duk está sempre a um passo do dramalhão, a um centímetro do kitsch e a um milímetro do ridículo. Pietà é talvez o mais longe que ele já foi nesse caminho. O estilo impressiona, a meu ver, pelas vias erradas. A frieza das cores, a empostação afetada dos atores, a maquiagem excessiva, as posturas solenes só fazem sublinhar um artificialismo atroz e empertigado, que esvazia o pretenso realismo da ambientação. Como história de vingança, redenção e denúncia política, Pietà é um pequeno elefante branco. Apenas um filme mais desagradável a cada minuto que passa.

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