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FESTIVAL DO RIO 2012: DIÁRIO DA FRANÇA

07.10.2012
Por Carlos Alberto Mattos
O MUNDO E A ALDEIA

O fotógrafo e cineasta Raymond Depardon, um dos criadores da agência Gamma e cultor do cinema direto na França, ganha um curioso perfil em Diário da França. Curioso em mais de um sentido. No sentido investigativo, por resgatar seu baú de filmes inéditos, dos tempos de cineasta amador e de cinejornalista em diversos conflitos internacionais. No sentido exótico, por adotar uma estrutura cindida, com dois fluxos de narrativa que nunca se comunicam.



De um lado, costuradas pela narração de sua esposa e técnica de som Claudine Nougaret, imagens desconhecidas e outras antológicas da carreira de Depardon desfilam em ordem cronológica. Lá estão filmes de casamento, guerra civil na Venezuela, a invasão dos tanques soviéticos em Praga, embates no Oriente Médio e na África, a famosa entrevista da refém Françoise Claustre no Chade, um magnetizante minuto de silêncio de Mandela diante da câmera. E também cenas de longas como Reporters, Urgences, La Captive du Désert e do célebre filme de campanha de Valéry Giscard d’Estaing, cuja exibição o presidente eleito proibiu.



Essa sucessão de excertos é interrompida aqui e ali por um fluxo paralelo situado na atualidade: Depardon viajando sozinho pelo interior da França e fotografando esquinas, pracinhas e velhinhos bucólicos com uma câmera tipo lambe-lambe em seu tripé imenso. Depois de rodar o mundo com os equipamentos mais sofisticados, o grande artista-repórter-etnógrafo volta-se para os rincões de sua terra natal. E nada diz sobre o que está sendo mostrado no outro fluxo.



O contraponto entre a agitação das imagens da carreira e esse pacato passeio fotográfico pela França constitui, afinal, o dispositivo do filme. Tenho minhas dúvidas se seria essa a melhor forma de revisitar a trajetória de Depardon, em contextualização tão tênue e sem um engajamento mínimo do autor em comentá-las. Tampouco vejo razão para um título tão abrangente e ao mesmo tempo tão local como Diário da França. Mas essas foram escolhas do casal, que assina o filme em conjunto. E em coisas de casal a gente não mete a colher.

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