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FESTIVAL DO RIO 2012: FERRUGEM E OSSO

10.10.2012
Por Luiz Fernando Gallego
CORPOS ESTROPIADOS

Ferrugem e osso é o sexto longa-metragem dirigido pelo também roteirista Jacques Audiard em quase vinte anos, seguindo-se a De tanto bater meu coração parou (2005) e O Profeta (2009). De modo bastante diverso de um Cronenberg, o francês Audiard parece, nestes três filmes, estar muito voltado para os corpos de seus personagens, o que fica mais evidente ainda neste filme.



Corpos estropiados: há quem perca as pernas, há quem machuque as mãos; há corpos em lutas violentas (como as que voltaram à moda). Mas também há corpos dançando em casas noturnas e intensas cenas de sexo; há corpos nadando no mar, ao sol - e há corpos deslizando no gelo, em meio a uma paisagem nevada. Há câmeras para espionar os corpos dos empregados de um mercado: o que fazem de irregular. Há fome; e também uso de produtos com validade vencida



Há uso animalesco dos corpos, seja no sexo, seja na violência; há um corpo forte sem-noção clara de alteridade nem consideração pelo outro, ainda quem sem maldade intencional. Há uma deficiência física em um corpo e insuficiência afetiva/emocional em outro.



O enredo, cuja sinopse pode paracer bizarra e de mau gosto acaba podendo parecer apenas romântico ou melodramático, mas fica maior a impressão de que o interesse de Audiard é falar do lugar do corpo na contemporaneidade sem nenhum discurso pré-concebido: apenas usar o cinema como meio de observação de diversos aspectos (também dispersos) de como vivemos nossa corporeidade.



Colaboram para o que o filme tem de mais bem sucedido, além da música de Alexandre Desplat, as interpretações absolutamente exatas de Marion Cotillard e de Matthias Schoenaerts. Ele é capaz de mostrar uma mímica sem muita modulação perfeitamente adequada às limtações e perpelexidades de seu personagem; e ela, como já é sabido, tem um dos rostos mais expressivos do cinema atual e uma capacidade de exteriorização dos sentimentos de sua personagem sem exageros, mas com incrível riqueza expressiva e capaz de comunicar afetos para a plateia, mesmo sem palavras.

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