Críticas


ENTRE O AMOR E A PAIXÃO

De: SARAH POLLEY
Com: MICHELLE WILLIAMS, SETH ROGEN, LUKE KIRBY, SARAH SILVERMAN
08.12.2012
Por Marcelo Janot
VALSA DA MELANCOLIA

Isso já tinha acontecido com "Namorados para sempre" ("Blue Valentine"), triste e belo filme também estrelado por Michelle Williams: coloca-se um título apelativo pra tentar atrair um público que espera outra coisa. “Entre o amor e a paixão” não é uma “comédia romântica ácida e engraçada” como o seu material publicitário tenta vendê-lo. Seu título original, "Take this waltz", tirado de uma música de Leonard Cohen, expressa melhor e menos literalmente o sentimento de uma personagem vivendo um momento de transição em sua relação matrimonial. E que tem muito pouco de ácido e engraçado.



As brincadeirinhas infantilizadas entre o casal formado por Margot (Willliams) e Lou (Seth Rogen) melancolicamente dão uma ilusão de harmonia a uma relação de 5 anos onde não há mais tesão, sexo e nem assunto para se conversar mesmo num jantar comemorativo. Cenário perfeito para que entre em cena um vizinho atraente (Luke Kirby) que ela conhece por acaso no avião.



Aliás, vale reparar, neste momento em que ainda estamos conhecendo o perfil psicológico dos personagens, que Margot revela ter fobia, não de voar, mas de conexões em aeroportos. Ora, uma personagem que tem medo de estar presa entre duas coisas, que tem medo de ter medo, trocará sua relação estável com um escritor razoavelmente bem-sucedido por um condutor de um tipo de tuc-tuc (aquela espécie de táxi sem motor nem pedais)?



O desenrolar da história poderia cair no lugar comum não fosse a delicadeza com que a diretora canadense Sarah Polley imprime a sua marca, confirmando o talento mostrado em seu ótimo filme de estreia, "Longe Dela". Imprime naturalismo a momentos cotidianos, sem glamourizar a nudez, como na cena em que as praticantes da aula de hidroginástica dialogam no chuveiro sobre o dilema amoroso entre a "estabilidade" e o "novo". O mesmo vale para as cenas em que Margot fica pelada na frente do marido, extremamente natural e sem erotismo algum.



Há também duas cenas musicais, sem diálogos, brilhantes: uma ao som de "Video Killed The Radio Star" em que Margot passa da euforia à melancolia, volta à euforia e um ruído de "clack" anuncia que a brincadeira acabou e é hora de voltar ao mundo real. A outra é com a faixa título, "Take This Waltz", que promove uma bela elipse temporal através do movimento de câmera circular.



Num filme em que os personagens masculinos são rasos e estereotipados, é nas costas de Michelle Willliams que a diretora se apoia para torná-lo acima da média. A atriz corresponde com uma atuação que se pode definir como espetacular, daquelas que por si só já vale o ingresso.

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