Críticas


CONTO DE OUTONO

De: ERIC ROHMER
Com: MARIE RIVIÈRE, BÉATRICE ROMAND, ALAIN LIBOLT, DIDIER SANDRE
19.04.2003
Por Luciano Trigo
O OLHAR JOVEM DE ROHMER

Como na maioria dos filmes de Éric Rohmer, acontece muito pouca coisa em Conto de Outono, o que pode deixar alguns espectadores desconcertados. Isabelle decide arrumar um marido para sua amiga Magali, viúva de 45 anos e pequena produtora de vinho. Através de um anúncio no jornal, conhece Gérald, a quem convida para o casamento da filha. Outro suposto pretendente aparece na mesma ocasião. E é só isso.



Diferentemente dos seus Contos Morais, os filmes que Rohmer dedicou (fora de ordem) às quatro estações não se apresentam como variações sobre um mesmo tema - o do homem que busca uma mulher, encontra outra no caminho e depois se decide pela primeira. Mas todas as marcas registradas do cineasta francês estão ali: a aparente despretensão com que retrata pessoas comuns, os desencontros e mal entendidos, a lenta exposição de situações que conduzem os personagens a pequenos mas decisivos conflitos éticos, ou em todo caso a momentos em que terão que fazer escolhas decisivas para o seu futuro.



Rohmer dirigiu Conto de Outono em 1998, aos 78 anos, e é inevitável repetir o comentário feito na minha crítica de Conto de Verão: é o cineasta francês que mais me impressiona pela juventude de seu olhar, fresco como as paisagens ao ar livre que são um elemento fundamental de seus filmes, e que ele às vezes demora um ano para escolher. Longe de se ter tornado um refém da Nouvelle Vague, como Godard, ou de ter cristalizado um formato que repete à exaustão, Rohmer dá a impressão de estar sempre dirigindo seu filme de estréia - pela poesia, pela delicadeza, pelo impulso lúdico, pela inocência com que capta o cotidiano. E no entanto sua assinatura está presente em cada fotograma, de forma sutil, quase

imperceptível.



Conto de Outono exige cumplicidade do espectador: sua linguagem tem um tempo próprio, seus longos diálogos são muitas vezes sussurrados, quase em tom de confidência; praticamente não há música (só nos três minutos finais). Rohmer não tem pressa. Por trás da naturalidade e do improviso aparentes, contudo, estão anos de reflexãoe de trabalho no roteiro – neste caso, aliás, premiado em Veneza. Se no Conto de Verão o tema era a indecisão própria da juventude, Conto de Outono aborda a indecisão própria das mulheres maduras. Neste sentido, a livreira Isabelle (Marie Rivière, de A Mulher do Aviador) e a vinicultora Magali (Beatrice Romand, que fazia a prima adolescente da personagem-título do já clássico O Joelho de Claire) são versões mais velhas da volúvel e calculista estudante Rosine (a linda Alexia Portal). A Rohmer interessa mais o enredo interno, a vida interior de suas personagens, que propriamente o desenrolar dos fatos que as envolvem – já que estes, no final das contas se equivalem. Nesse processo de investigação, ele sugere questões valiosas sobre a solidão, a intimidade, o grau em que é possível se conhecer de verdade o outro e a si mesmo.



# CONTO DE OUTONO (CONTE D´AUTOMNE)

França, 1998

Direção e roteiro: ERIC ROHMER

Produção: MARGARET MÉNÉGOZ, FRANÇOISE ETCHEGARA

Fotografia: DIANE BARATIER

Montagem: MARY STEPHEN

Música: CLAUDE MARTI, GÉRARD PANSANEL, PIERRE PEYRAS, ANTONELLO SALIS

Elenco: MARIE RIVIÈRE, BÉATRICE ROMAND, ALAIN LIBOLT, DIDIER SANDRE, ALEXIA PORTAL, STÉPHANE DARMON

Duração: 112 minutos

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