Críticas


O MESTRE

De: PAUL THOMAS ANDERSON
Com: JOAQUIN PHOENIX, PHILIP SEYMOUR HOFFMAN, AMY ADAMS
29.01.2013
Por Marcelo Janot
Ao final, várias peças permanecerão sem encaixe, mas atravessar essa experiência um tanto perturbadora deixa uma sensação gratificante.

O anúncio publicitário brasileiro de “O mestre” destaca a frase “O filme que aborda a polêmica cientologia”. Comparações vêm sendo feitas entre o personagem-título e L. Ron Hubbard, criador desta religião nos anos 50. Mas a abordagem sutil e propositadamente pouco esclarecedora pode decepcionar quem for ao cinema na esperança de entender que crença é essa que atrai Tom Cruise, John Travolta e outras estrelas. O que o diretor e roteirista Paul Thomas Anderson faz muito bem é radiografar a instabilidade emocional e psicológica da América pós-Segunda Guerra através do encontro explosivo entre Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), líder de uma seita, e Freddie Quell (Joaquin Phoenix), um ex-combatente alcóolatra.

Se há ecos de Hubbard em Dodd, o personagem também pode ser comparado a Orson Welles e sua contagiante opulência. Resumir o filme a uma suposta polêmica religiosa seria injustiça com P.T. Anderson. Consagrado nos anos 90 por filmes como “Boogie Nights” e “Magnólia”, ele deu uma guinada na carreira com o brilhante “Sangue negro” (2007). A ambição com que abordava a saga de um explorador de petróleo no início do século XIX era acompanhada de um rigor formal que se repete em “O mestre”. São tantas as nuances do esplêndido trabalho do diretor de fotografia Mihai Malaimare Jr que lamenta-se que poucos cinemas possam exibi-lo em seu formato original de 65mm. O cuidado na composição de cada quadro se estende à reconstituição de época e à trilha sonora de Jonny Greenwood, integrante do Radiohead, que injeta sangue novo e notas dissonantes aos temas orquestrais, num efeito quase hipnótico que se adequa com perfeição ao que está sendo contado.

Viciado em drinques pouco ortodoxos que incluem solvente para tinta e combustível, Quell é “adotado” por Dodd. Os motivos da relação que se estabelece entre eles nunca ficam muito claros, e há a possibilidade de que em certas cenas-chave o que vemos seja delírio de um sujeito entorpecido pela bebida. Aliado ao fato de que nada se sabe da história pregressa de Dodd, cabe ao espectador montar o quebra-cabeças como desejar. Ao final, várias peças permanecerão sem encaixe, mas atravessar essa experiência um tanto perturbadora deixa uma sensação gratificante. Até porque não é todo dia que se vê um duelo de atores em estado de graça como Hoffman e Phoenix, ambos indicados ao Oscar.

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Outros comentários
    13
  • Renata
    04.03.2013 às 12:32

    Não tive boa sensação quando o filme acabou e na memória resolvi guardar apenas as cenas com seus belíssimos enquadramentos. Achei o filme cansativo, porém, uma experiência que valeu a pena pela atuação dos personagens principais.